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sexta-feira, 26 de abril de 2013
AVISÁ-LO ou AVISAR-LHE? - “Enfrentar de frente”. Pode? - EXTRATO ou ESTRATO? - LINKAR ou LINCAR? - ACRIANO ou ACREANO- Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
AVISÁ-LO ou AVISAR-LHE?
O verbo AVISAR é transitivo direto e indireto. Se você avisa, pode “avisar alguma coisa a alguém” ou “avisar alguém de alguma coisa”.
Portanto, as duas formas são possíveis:
“É preciso AVISAR-LHE (=objeto indireto) as novidades (=objeto direto);
“É preciso AVISÁ-LO (=objeto direto) das novidades (=objeto indireto).
Não devemos “avisar-lhe das novidades” (=dois objetos indiretos) nem “avisá-lo as novidades” (=dois objetos diretos).
“Enfrentar de frente”. Pode?
Depende. Pode falar, mas somente a ênfase justificaria o seu uso.
Leitor quer saber: “Num relatório da empresa em que trabalho, encontramos logo no primeiro parágrafo: Enfrentando de frente… Está correto ou é uma tremenda redundância?”
“Enfrentar de frente” apresenta o mesmo problema de “encarar de frente”. Trata-se de uma redundância. A menos que alguém prefira enfrentar ou encarar “de costas”.
EXTRATO ou ESTRATO?
Leitor quer saber se a frase a seguir está correta: “Esse aumento de 40% na matrícula trouxe para o ensino médio uma população de extratos mais baixos de renda.”
“Tratando-se de “camadas”, o correto não seria ESTRATOS?”
O nosso leitor tem razão.
a) ESTRATO = “camada”. O certo é “estrato social”, “sociedade estratificada” (=dividida em camadas), “estratosfera”…
b) EXTRATO = “essência, resumo, sumo” (vem do verbo EXTRAIR): “extrato de tomate”, “extrato bancário”, “extrato (= essência de perfume)”…
LINKAR ou LINCAR?
Em vez de fazer um link, prefiro LIGAR, UNIR ou CONECTAR. Temos aqui, um belo exemplo de estrangeirismo desnecessário. É o tal do “neobobismo linguístico”.
Pior ouvi na transmissão de um jogo de futebol americano por um canal internacional. Os narradores, brasileiros contratados para narrar os jogos em português, demonstraram a sua “enorme” preocupação com língua pátria.
Ao ser focalizado o presidente do time vencedor, o primeiro disse: “Este senhor é o chairman”. O outro, preocupado com o fato de os brasileiros não saberem o que é um chairman, apressou-se para explicar: “Chairman é o big boss”. Aí, toda a galera entendeu…
ACRIANO ou ACREANO?
Comentário de um leitor: “O que está acontecendo com os naturais do estado do Acre. Quando o crime é do deputado, é acriano. Quando é do vereador agora empossado, é acreano. Será uma questão de status?”
Não é questão de status.
O antigo dicionário Aurélio registrava as duas formas.
Segundo o novo Vocabulário Ortográfico publicado pela Academia Brasileira de Letras e o dicionário do mestre Evanildo Bechara, quem nasce no Acre é ACRIANO. Não há registro de acreano.
DESAFIO AO INTERNAUTA
Qual é a forma correta?
a) hidro-sanitária OU hidrossanitária?
b) sócio-político OU sociopolítico?
c) micro-empresa OU microempresa?
d) mini-série OU minissérie?
e) mega-evento OU megaevento?
Segundo o novo acordo ortográfico, só devemos usar hífen após prefixos ou falsos prefixos dissílabos e terminados por vogal (auto, contra, infra, ultra, sobre, anti, mini, micro, mega, hidro, socio, tele…) se a palavra seguinte começar por H ou vogal igual: auto-hipnose, auto-observação, anti-herói, anti-inflamatório, sobre-humano, sobre-erguer, mini-hospital, mini-internato, contra-ataque…
Assim sendo, as respostas corretas são:
a) hidrossanitária;
b) sociopolítico;
c) microempresa;
d) minissérie;
e) megaevento.
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AO INVÉS DE ou EM VEZ DE - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
AO INVÉS DE ou EM VEZ DE?
a) AO INVÉS DE = ao contrário de;
b) EM VEZ DE = em lugar de.
Sempre que houver a ideia de “troca, substituição”, devemos usar EM VEZ DE: “Ele foi à praia EM VEZ DE ir para a escola”.
Só podemos usar AO INVÉS DE se a substituição for entre coisas opostas: “Ele entrou à direita AO INVÉS DE entrar à esquerda”.
Carta de leitor: “Estava hoje lendo um livro traduzido do inglês para o português, quando me deparei com a frase: Em vez de... Pensei comigo: será que no original em inglês estava escrito instead of ? Aí veio a dúvida: mas então a tradução deveria ser ao invés de? Quando é que devo usar ao invés de e em vez de?”
Se podemos usar EM VEZ DE em qualquer tipo de substituição e só podemos usar AO INVÉS DE se forem coisas contrárias, deixo uma sugestão: em caso de dúvida, use EM VEZ DE. Assim, você não corre o risco de errar.
ANTIGUIDADE ou ANTIGÜIDADE?
O trema foi abolido. Isso significa que o seu uso não é mais obrigatório em palavras em que ocorrem os grupos qüe, qüi, güe e güi: freqüente, conseqüentemente, seqüestro, delinqüente, tranqüilo, qüinquagésimo, qüinqüenal, agüentar, enxágüem, averigüemos, lingüiça, pingüim, argüição, ambigüidade…
Segundo o novo acordo ortográfico, o correto agora é escrever sem trema: frequente, consequentemente, sequestro, delinquente, tranquilo, quinquagésimo, quinquenal, aguentar, enxáguem, averiguemos, linguiça, pinguim, arguição, ambiguidade…
A pronúncia continua a mesma.
O trema só era facultativo em palavras de dupla pronúncia: sanguinário ou sagüinário, liquidação ou liqüidação, antiquíssimo ou antiqüíssimo, antigüidade ou antiguidade…
Com a implantação do novo acordo ortográfico, a pronúncia continua facultativa, mas a grafia oficial é sem trema: ANTIGUIDADE.
Questões de regência
Mensagem de uma leitora: “Gostaria de saber se está correto dizer: ‘Até o mais ruim dos chocolates eu gosto’ ou ‘Até a comida mais ruim eu como’?”
Temos um problema de regência na primeira frase. O verbo GOSTAR pede a preposição DE. Isso significa que deveríamos dizer: “Até DO mais ruim dos chocolates eu gosto”.
Na segunda frase, a preposição não é necessária porque o verbo COMER é transitivo direto.
É interessante notar que nas duas frases temos o complemento verbal na posição de tópico, o que permitiria o uso de vírgulas: “Até do mais ruim dos chocolates, eu gosto” e “Até a comida mais ruim, eu como”.
CUIDADO COM A INTERNET
Mensagem eletrônica de um leitor: “Falando em manchetes. Tem aquelas duas clássicas: quando o João Gilberto jogou o violão em cima da plateia na década de 60 e um jornal deu VIOLADA NO SALÃO; e numa cidadezinha do interior um cachorro quente estragado intoxicou uma moça e apareceu CACHORRO FEZ MAL À MOÇA.”
É por causa disso que vivo afirmando que algumas frases precisam fazer o teste de DNA.
A bem da verdade, quem jogou o violão na plateia foi o cantor e compositor Sérgio Ricardo, e a tal manchete teria sido VIOLADA NO AUDITÓRIO.
Já o cachorro quente, mesmo fazendo mal, é melhor que hot dog.
O ou A personagem?
Apelo do leitor: “Gostaria que você confirmasse o gênero da palavra PERSONAGEM. Segundo o meu dicionário Aurélio, trata-se de um substantivo masculino e feminino. Ocorre que, constantemente, ouço atores e atrizes, em entrevistas, referirem-se à palavra no feminino mesmo tratando-se de personagens do sexo masculino?”
Na língua portuguesa, as palavras terminadas em –AGEM são naturalmente femininas: a lavagem, a folhagem, a contagem, a plumagem, a garagem, a aprendizagem, A PERSONAGEM (homem ou mulher)…
Com o passar do tempo, a palavra PERSONAGEM tornou-se “comum de dois gêneros”: O PERSONAGEM (homem) e A PERSONAGEM (mulher), O/A estudante, O/A artista, O/A colega, O/A jovem, O/A jornalista…
Não devemos, portanto, reduzir o caso à simples discussão de certo ou errado. Se você quer seguir a tradição, use A PERSONAGEM (para homens ou mulheres); se você aceita certas transformações pelas quais toda língua passa, prefira O PERSONAGEM masculino e A PERSONAGEM feminina.
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Dúvidas e Dicas no uso do NO ou AO, baixo OU embaixo, CÍRCULO ou CICLO, A ou AO, Fôrnos OU fórnos, ANEXO ou ANEXOS, INGESTÃO ou INALAÇÃO - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
1ª) “Animais NO volante ou AO volante?”
Concordo com o nosso leitor. Também prefiro AO VOLANTE. Mas, como são animais…
É semelhante a “ficar NO sol”. A maioria prefere “ficar AO sol”.
2ª) “Devemos dizer: 1,3 tonelada, 1,2 bilhões de dólares…?”
A concordância deve ser feita com o número que vem antes da vírgula: 1,3 tonelada, 1,2 bilhão de dólares.
Para ficar bem claro: 1,2 milhão de reais = 1 milhão e 200 mil reais; 2,1 milhões de reais = 2 milhões e 100 mil reais.
3ª) “Em baixo OU embaixo?”
EMBAIXO deve ser escrito sempre “junto”. A confusão se deve ao fato de EM CIMA ser escrito “separado”. Lembre-se do “V” da vitória: EMBAIXO junto, EM CIMA separado.
4ª) “CÍRCULO ou CICLO vicioso?”
É círculo vicioso.
5ª) “A Internet A seu alcance ou AO seu alcance?”
Tanto faz. O uso dos artigos definidos (= o, a, os, as) antes dos pronomes possessivos (meu, minha, teu, seu, sua, nossa…) é facultativo.
6ª) Concordância correta?
“O clube, não se responsabiliza por objetos de valores deixados dentro dos vestiários. A concordância está correta?”
Pelo visto, o clube não se responsabiliza por objetos de valor nem com a correção gramatical dos seus avisos. Isso é que falta de responsabilidade.
É importante observar que a vírgula está separando sujeito e predicado. Portanto, “O clube não se responsabiliza por objetos de VALOR (ou não se responsabiliza por valores) deixados dentro dos vestiários”.
Uma última dúvida: será que o clube se responsabiliza por objetos de valor deixados FORA dos vestiários?
7ª) Fôrnos OU fórnos?
Leitor quer saber: “Plural de bolso é com vogal tônica aberta ou fechada? E a palavra forno?”
Chama-se METAFONIA a mudança no timbre (fechado > aberto) da vogal tônica (ô > ó).
Muitas palavras sofrem metafonia quando vão para o plural: jogo > jogos, fogo > fogos, porco > porcos, novo > novos, sogro > sogros, FORNO > FORNOS…
Existem outras tantas que não sofrem metafonia, ou seja, no plural a vogal tônica continua com timbre fechado: bolo > bolos, cachorro > cachorros, acordo > acordos, piloto > pilotos, esposo > esposos, BOLSO > BOLSOS…
8ª) “Seguem ANEXO ou ANEXOS os documentos?”
A palavra ANEXO faz papel de adjetivo. Deve, por isso, concordar com o substantivo a que se refere. Se “os documentos estão ANEXOS”, o certo é “seguem ANEXOS os documentos”.
9ª) INGESTÃO ou INALAÇÃO?
“Repórter relatando uma nova vacina escreveu: INGESTÃO POR INALAÇÃO. Por onde terá o tal repórter metido o nariz?”
Vejamos o que diz o dicionário Aurélio:
a) INGESTÃO: Ato de ingerir; deglutição.
b) INGERIR: 1. Meter no estômago; engolir; 2. Fazer penetrar; introduzir; intrometer.
c) INALAÇÃO: 1. Ato ou efeito de inalar; 2. Absorção, pelas vias respiratórias…
A expressão INGESTÃO POR INALAÇÃO fica estranha porque associamos o ato de INGERIR ao ato de ENGOLIR (=”passar da boca ao estômago, deglutir”). ENGOLIR pelo nariz seria meio difícil…
O problema é que INGERIR, de certa forma, é sinônimo de “introduzir”. Portanto, com um pouquinho de boa vontade, a expressão INGESTÃO POR INALAÇÃO é aceitável, principalmente pelo fato de ser compreensível.
Desafio
Qual é forma correta?
a) Fui eu que lavou o carro.
b) Foi eu que lavou o carro.
c) Foi eu quem lavou o carro.
d) Fui eu que lavei o carro.
e) Fui eu quem lavou o carro.
Há duas opções corretas:
d) FUI eu que LAVEI o carro; e
e) FUI eu quem LAVOU o carro.
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Crase - A polêmica CRASE - Uso da Crase - quando há (ou não) crase - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
A polêmica CRASE
A crase é sempre um caso sério.
“Com dúvida a respeito da ocorrência de crase na expressão ‘Programa de Ensino à Distância’ e ‘Universidade Aberta e de Ensino à Distância’, andei pesquisando no Dicionário e na Gramática Aurélio (ambos eletrônicos) e consegui os dados abaixo:
*Dicionário Aurélio Eletrônico
Verbete: distância
Um tanto longe: Ouvimos vagos rumores a distância.
Sem familiaridade: Sua casmurrice mantinha todos a distância. [Também se usa à distância (com acento no a): Parede acima vais (a lagartixa). E eu, à distância, / Olho as tuas pesquisas apressadas (Fernando de Mendonça, 13 Decassílabos, p.8).]
*Gramática Eletrônica Aurélio
Casos particulares
Dá-se a CRASE:
a) com a palavra CASA quando indicar estabelecimento comercial ou estiver seguida de adjunto: Foi um golpe esta carta; não obstante, apenas fechou à noite, corri à casa de Virgília. (M. de Assis)
Observação: Entretanto não há crase com a palavra CASA no sentido de residência, lar: Chegamos a casa eu e ela perto das nove horas da noite. (M. de Assis)
b) com a palavra TERRA seguida de uma especificação qualquer:
Tanto eu quanto minha mulher já estávamos ajustados à terra e à gente de Portugal. (J. Montello)
Observação: Mas não se usa a crase antes da palavra TERRA em oposição a mar: À noite já está embarcado, e nem desce a terra para esperar a maré. (O. Costa Filho)
c) com a palavra DISTÂNCIA quando significar na distância: Não ameis à distância. (R. Braga)”
A nossa leitora tem razão. O uso do acento da crase, para nós brasileiros, é uma grande dor de cabeça.
Primeiro, é necessário entendermos que crase é a fusão de duas vogais iguais: preposição “a” + outro “a” (artigo definido feminino ou pronome demonstrativo ou vogal inicial dos pronomes AQUELE (S), AQUELA (S), AQUILO). Isso significa que temos de saber a regência dos verbos e dos nomes (= saber se pedem ou não a preposição “a”) e reconhecer a presença do segundo “a”: “Vou a (preposição) + a (artigo) praia = Vou à praia”; “Sua camisa é igual a (preposição) + a (pronome = a camisa) do meu pai = Sua camisa é igual à do meu pai”; “Chegou a (preposição) + aquele lugarejo = Chegou àquele lugarejo”.
Depois surgem os casos particulares:
a) Você vai a qualquer CASA com o acento da crase, menos se for a sua própria casa: “Vou… à casa dos meus avós, à casa do vizinho, à casa de Cabo Frio, à casa José Silva, à casa dela.”
Mas: “Ele retornou a casa só lá pelas onze horas”.
A explicação é a seguinte: não há artigo definido antes da palavra CASA, quando se refere a sua própria casa: “Fiquei EM casa”, “Venho DE casa”.
b) Você vai a qualquer TERRA com acento da crase, menos se for “terra firme”: “Vou…à terra dos seus ancestrais, à terra natal, à terra da minha avó.”
Mas: “O marinheiro pediu autorização para descer a terra.”
A explicação é a mesma. Não há artigo definido antes da palavra TERRA, quando significa terra firme: “Ficamos EM terra”, “Consulte o nosso pessoal DE terra”.
c) Com a palavra DISTÂNCIA, existe uma grande polêmica:
1o) Ocorre a crase sempre que a DISTÂNCIA estiver determinada: “Ficou à distância de cinco metros”;
2o) Se a DISTÂNCIA não estiver determinada, existem duas versões:
a) Sem crase porque não haveria artigo definido: “Ficamos a distância”; “Ensino a distância”; ou
b) Com crase por tratar-se de um adjunto adverbial (com palavra feminina): “Ficar à distância”, “Sentar-se à mesa”; “Bater à porta”; “Sair à noite”; “Chegar às 10h”; “Vender à vista”; “Viver à toa”; “Falar às claras”…
Agora, você decide.
Quanto aos casos das palavras CASA e TERRA, não há discussão.
Quanto à polêmica da palavra DISTÂNCIA, por uma questão de padronização, adotamos o uso da crase em todas as situações, ou seja, “ficamos à distância de dez metros” e “ensino à distância”.
Nada definitivo, é claro.
HÁ CERCA DE ou ACERCA DE ou A CERCA DE?
a) HÁ CERCA DE
= “existem perto de”:
“Há cerca de trinta alunos em sala.”
= “faz perto de” (tempo decorrido):
“Não nos vemos há cerca de trinta dias.”
b) ACERCA DE (= a respeito de, sobre)
“Falávamos acerca do jogo de ontem.”
c) A CERCA DE
= referência a tempo futuro:
“Só nos veremos daqui a cerca de trinta dias.”
= referência a distância:
“Estamos a cerca de trinta quilômetros do tal lugarejo.”
= substantivo:
“Cortaram a cerca de arame farpado.”
Crase - Com ou sem crase - VALE A PENA ou À PENA? - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
VALE A PENA ou À PENA?
Não há crase. O verbo VALER não pede preposição.
Se “vale o sacrifício”, é porque “VALE A PENA” (sem crase).
Sal A GOSTO ou À GOSTO?
Crítica do leitor: “Em Chef de Botequim, temos ‘1 colher de sal a gosto’. Falta crase? Se definiu ‘1 colher’, pode-se utilizar ‘a gosto’?”
O nosso leitor tem razão em parte.
1o) Há uma incoerência: ou pomos “1 colher de sal” ou pomos “sal a gosto”.
2o) Quanto à ausência do acento da crase, não há erro. Realmente não há crase. A explicação é simples: GOSTO é uma palavra masculina.
Consequentemente não pode haver artigo definido feminino “a”. Temos apenas a preposição.
VAI VIR ou VAI VIM?
Leitor, pelo correio eletrônico, cobra um comentário meu sobre o que ele chama “vírus linguístico”: o mau uso da forma verbal “VIM”.
Primeiro, é importante lembrar que a forma verbal VIM existe. O problema é saber quando usar. VIM é a 1ª pessoa do singular, do pretérito perfeito do indicativo, do verbo VIR: “Eu sempre VIM a esta casa com grande prazer”.
O que o nosso leitor chama de “vírus” é o uso da forma VIM em lugar do infinitivo VIR: “Ele não vai vim” (= VAI VIR); “Vocês não vão vim?” (= VÃO VIR); “Você pode vim sempre que quiser” (o certo é PODE VIR).
Em vez de “vai vir” e “vão vir”, prefira ELE VIRÁ e ELES VIRÃO.
Um ou dois VAI ou VÃO?
Leitor quer saber: “Ao usar UM OU DOIS, o verbo vai para o singular ou para o plural? Por exemplo, um ou dois problemas precisa (ou precisam) ser solucionado (ou solucionados)?”
Quando usamos a conjunção OU, com valor de “exclusão” ou de “dúvida”, o verbo deve concordar com o que está mais próximo:
“Ou eu ou você TERÁ de viajar a Brasília para resolver o problema.”
“Ou você ou eu TEREI de viajar…”
“Ladrão ou ladrões INVADIRAM a mansão do Morumbi”.
Portanto, a resposta é: “Um ou dois problemas PRECISAM ser SOLUCIONADOS”.
DIZ ou DIZEM?
Crítica do leitor desta coluna: “Vejamos o que diz os dicionários Caldas Aulete e Michaelis…”
Não tem perdão. O leitor tem razão. O sujeito está no plural: “Vejamos o que DIZEM os dicionários…”
HAJA ou HAJAM?
Leitora pergunta:: “Na frase ‘Na partida em que HAJAM jogadores convocados…’, o verbo HAVER é auxiliar para a formação da voz passiva (hajam sido/tenham sido) ou tem o sentido de ‘existir’, sendo, portanto, impessoal?”
A princípio, podemos interpretar a frase de duas maneiras:
1a) HAVER tem o sentido de “existir”. É verbo impessoal (=sem sujeito). Isso significa que só pode ser usado no SINGULAR: “Na partida em que HAJA (=existam) jogadores convocados…”
2a) É possível interpretarmos a frase na voz passiva (=com o verbo SER subentendido). Nesse caso, o termo JOGADORES seria o sujeito. O verbo HAVER seria auxiliar e deveria concordar no plural: “Na partida em que os jogadores HAJAM SIDO CONVOCADOS…”
Para saber qual das duas interpretações é a correta, é necessário conhecer o restante da frase.
O mais provável é a primeira interpretação: “…hajam jogadores convocados”.
Qual é a forma correta?
a) Catalizador ou catalisador ?
b) Megaestrela ou mega-estrela ?
c) Chegou em Cuba ou a Cuba ?
d) Mau-humorado ou mal-humorado ?
e) Isto não aconteceu por que ou porque os africanos não puderam viajar ?
Respostas:
(a) catalisador;
(b) megaestrela;
(c) chegou a Cuba;
(d) mal-humorado;
(e) porque.
Plural - Qual é o plural de aparelho de ar-condicionado? - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Qual é o plural de aparelho de ar-condicionado?
O plural é APARELHOS de ar-condicionado.
Se você queria o plural de AR-CONDICIONADO, seria “ares-condicionados”.
Achou feio, estranho? Eu também. Prefira, então, CONDICIONADORES DE AR.
Deve-se OU devem-se?
Crítica do leitor: “Você diz que a forma correta é DEVEM-SE EVITAR as formas rebuscadas, afirmando que FORMAS REBUSCADAS é o objeto direto da forma passiva e portanto o sujeito da forma ativa. Acontece que FORMAS REBUSCADAS é o objeto direto do verbo EVITAR e não do verbo DEVER. A forma ativa correspondente seria EVITAR AS FORMAS REBUSCADAS É DEVIDO, por mais pedante que seja essa expressão. Parece-me que é exatamente o mesmo caso de DEVE-SE ASSISTIR A TODOS OS JOGOS.”
Meu caro leitor, está havendo uma confusão muito grande.
1o) FORMAS REBUSCADAS é o objeto direto da voz ATIVA (=deve evitar as formas rebuscadas) e sujeito da VOZ PASSIVA (=devem-se evitar as formas rebuscadas);
2o) A partícula SE é apassivadora. “Devem-se evitar as formas rebuscadas” (=voz passiva sintética) corresponde a “As formas rebuscadas devem ser evitadas” (=voz passiva analítica). O termo “as formas rebuscadas” é o sujeito das duas frases.
3o) “Devem evitar” e “deve assistir” são locuções verbais.
4o) A diferença está no verbo principal: EVITAR é transitivo direto e ASSISTIR é transitivo indireto.
5o) Só podemos fazer voz passiva se houver objeto direto na voz ativa para transformar-se no sujeito da voz passiva: “Ele deve evitar as formas rebuscadas (OD)” > “As formas rebuscadas (SUJEITO) devem ser evitadas” = “Devem-se evitar as formas rebuscadas (SUJEITO)”. O verbo deve concordar no PLURAL porque o sujeito está no plural.
6o) Em “Deve-se assistir (TI) a todos os jogos (OI)” não há objeto direto para virar o sujeito da voz passiva. Nesse caso, a partícula SE é indeterminadora do sujeito. Consequentemente o verbo deve concordar no SINGULAR.
CO-HABITAR ou COHABITAR ou COABITAR?
Segundo o novo acordo ortográfico, não usaremos mais hífen após o prefixo CO. Assim sendo, deveremos escrever sempre “junto”, sem hífen: copiloto, cotangente, cosseno, cooperar, colaborar, coirmão, cofundador, corresponsável, coprodução.
A resposta correta, portanto, é COABITAR. A perda do H se deve ao fato de só haver o H mudo no início das palavras ou com hífen: coabitante, coerdeiro, reaver, desumano, subumano ou sub-humano, mal-humorado, super-homem…
EMINENTE ou IMINENTE?
PRESCREVER ou PROSCREVER?
Leitor quer saber:
a) “O perigo era tão grande que já era EMINENTE ou IMINENTE”?
b) “O prazo de validade já PROSCREVEU ou PRESCREVEU”?
O correto é:
a) “O perigo era tão grande que já era IMINENTE”
b) “O prazo de validade já PRESCREVEU”
“O perigo era…IMINENTE.” (=que ameaça cair sobre alguém ou
alguma coisa; que está para acontecer);
“O prazo…PRESCREVEU.” (=ficou sem efeito por ter decorrido o
prazo legal; perdeu a validade).
Resumindo:
a) IMINENTE é o que está para ocorrer imediatamente, em breve;
EMINENTE é importante; pessoa que ocupa cargo ou função elevada;
b) PRESCREVER é receitar ou perder a validade, expirar o prazo;
PROSCREVER é banir, expulsar ou proibir.
Há crase ou não?
Leitor quer saber qual é a forma correta:
a) “Em resposta À ou A reclamação acima citada”?
b) “De acordo com o diretor, o descumprimento das diretrizes
estabelecidas será considerado transgressão disciplinar sujeita À ou A advertência escrita, suspensão e, finalmente, desligamento da empresa”?
Respostas:
a) “Em resposta à reclamação acima citada.” (=”Em resposta AO pedido acima citado”);
b) “…sujeita a advertência escrita, suspensão e…” (=”…sujeita A elogio escrito, suspensão…”
A diferença é a presença do artigo para definir “a reclamação acima citada” na frase (a). Na frase (b), não há crase porque não há artigo antes de advertência (palavra tomada no sentido genérico, indeterminado, não específico).
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Dúvidas semânticas - Dicas semânticas - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Dúvidas semânticas
A palavra é sempre um assunto apaixonante. Algumas vezes somos traídos por nós mesmos. Imaginamos que conhecemos o significado de uma palavra, e de repente a surpresa: lá está o velho dicionário para nos dar mais uma lição.
A coluna de hoje é feita com a contribuição dos nossos leitores.
1ª) Leitor quer saber: “Uma decisão ARBITRADA é necessariamente ARBITRÁRIA?”
Segundo a maioria dos nossos dicionários, deveríamos fazer a seguinte distinção:
a) “Uma decisão ARBITRADA” é aquela que foi julgada por um árbitro. ARBITRAR é decidir na qualidade de árbitro; sentenciar como árbitro. ÁRBITRO é o juiz nomeado pelas partes para decidir as suas questões.
b) “Uma decisão ARBITRÁRIA” é resultante de arbítrio pessoal, ou sem fundamento em lei ou em regras.
Portanto, uma decisão ARBITRADA não é necessariamente ARBITRÁRIA.
2ª) Outra leitora apresenta sua dúvida: “Hoje não leio nada que contenha o termo LENDÁRIO, e sim LEGENDÁRIO. Sei que lenda em inglês é legend, mas por acaso estou equivocada ou nós temos uma palavra apropriada para o termo aportuguesado?”
Segundo nossos dicionários, LENDÁRIO e LEGENDÁRIO podem ser usados como sinônimos. Está registrado no dicionário Michaelis: “LEGENDÁRIO 1. Que se refere a legenda. 2. Que é da natureza das lendas; lendário.”
LENDÁRIO é derivado de LENDA (narrativa em que fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela invenção poética);
LEGENDÁRIO é relativo a LEGENDA (inscrição, dístico, letreiro, vida dos santos, lenda).
3ª) Leitor quer saber: “a diferença entre ESTÓRIA (=fantasia) e HISTÓRIA (real) ainda está valendo?”
O problema é que a palavra HISTÓRIA pode ser usada tanto para as narrativas de fatos (=realidade) quanto para as lendas, fábulas, narrativas de ficção (=fantasia). ESTÓRIA é sempre ficção.
Não podemos é afirmar que a palavra ESTÓRIA não existe, pois está devidamente registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e em muitos dicionários: Cândido de Figueiredo, Caldas Aulete, Aurélio, Michaelis…
Nós podemos, portanto, fazer a velha distinção HISTÓRIA (=real) e ESTÓRIA (=ficção) ou usar a palavra HISTÓRIA para os dois casos.
4ª) Comentário do leitor: “Não existe HILÁRIO como adjetivo de ‘algo engraçado’, como insistem em escrever. O dicionário registra HILARIANTE.”
O nosso querido leitor deve ter sido traído da mesma forma como eu já fui muitas vezes. Consultar um único dicionário é sempre perigoso. O dicionário Caldas Aulete só registra HILARIANTE, entretanto a palavra HILÁRIO, usada como adjetivo (=que provoca o riso), aparece em outros dicionários (Michaelis, Larousse, Ruth Rocha…) e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Eu também prefiro o adjetivo HILARIANTE, mas não posso afirmar que HILÁRIO não existe.
A palavra é um assunto riquíssimo que merece ser tratado com carinho e atenção.
ENTRE SI ou ENTRE ELES?
a) Usamos ENTRE SI, sempre que o sujeito pratica e recebe a ação verbal: “Os políticos discutiam entre si”. Aqui, o sujeito (=os políticos) pratica e recebe a ação verbal.
b) Usamos ENTRE ELES, quando o sujeito é um e o complemento é outro: “Nada existe entre eles”. Nesse caso, o sujeito é “NADA” e o complemento é “ENTRE ELES”.
Vejamos mais exemplos:
“Os jogadores brigavam ENTRE SI mesmos.”
“Eles repartiram o prêmio ENTRE SI.”
“O prêmio foi repartido ENTRE ELES.”
“O segredo ficou ENTRE ELES mesmos.”
DESEMPOEIAR ou DESPOEIRAR?
Leitor quer saber: “Na área de controle ambiental, vejo muito ‘SISTEMAS DE DESPOEIRAMENTO’. Prefiro ‘SISTEMAS DE DESEMPOEIRAMENTO’. O verbo é EMPOEIRAR. O contrário não seria DESEMPOEIRAR?“
O nosso leitor tem razão em parte. A maioria dos nossos dicionários só registra os verbos EMPOEIRAR e DESEMPOEIRAR. Logo, a forma DESEMPOEIRAMENTO é a mais recomendável.
Entretanto, é importante saber que o neologismo DESPOEIRAMENTO e o verbo DESPOEIRAR já estão devidamente registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
Portanto, você pode preferir a forma DESEMPOEIRAMENTO, mas não deve afirmar que DESPOEIRAMENTO não existe ou que seu uso esteja errado.
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Está certo ou errado? Ou será uma questão de adequação? - Pronomes - Verbo Auxiliar- Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Está certo ou errado? Ou será uma questão de adequação?
Rápido comentário a respeito de cada exemplo a seguir.
1.“…mais um acidente com vítima fatal.”
FATAL é “o que provoca a morte”. Portanto, não é a vítima que é fatal. FATAL é o acidente. “Vítima fatal” está consagrada pelo uso e, hoje, perfeitamente compreensível.
2. “Os vencimentos serão pagos numa parcela única.”
“Parcela única” é muito estranho. PARCELA é “pequena parte de qualquer coisa”. Rigorosamente, “pequenas parcelas” pode ser uma redundância e “parcela única” seria incoerente.
3. “Queremos reaver o prejuízo.”
Duvido que alguém queira o prejuízo de volta. Queremos é ser indenizados pelo prejuízo.
Não sejamos, entretanto, tão rigorosos com a língua portuguesa, a expressão “correr atrás do prejuízo”, embora incoerente, é perfeitamente compreensível.
4. “O secretário explicou ontem por que deixou o cargo.”
Se tinha deixado o cargo no dia anterior, não era mais secretário.
Portanto, “o ex-secretário explicou ontem por que deixou o cargo”.
5. “Se o atacante for regularizado pela Federação…”
Não é o atacante que deve ser regularizado. A situação do jogador é que deve ser regularizada pela Federação. Leitor tem razão em parte. Nossa língua não é tão lógica como muitos pensam. O subentendido faz parte da nossa linguagem. Não sejamos tão rigorosos.
6. “Ninguém se feriu no desabamento, com exceção do porteiro.”
Para que o porteiro não se sinta pior que “ninguém”, seria melhor ter escrito: “Somente o porteiro se feriu no desabamento”. Concordo com o leitor. Frase de muito mau gosto.
7. “O Pão de Açúcar é quase 20 vezes menor que o Aconcágua.”
É impossível ser “20 vezes menor”. É um problema matemático. O contrário de “3 vezes mais” é “um terço”. Na verdade, “o Aconcágua é 20 vezes maior que o Pão de Açúcar”.
8. “Ao contrário do que foi publicado ontem, Romário fez dezoito e não dezessete gols…”
Dezoito e dezessete não são coisas contrárias. Portanto, o mais adequado é dizer: “Diferentemente do que foi publicado ontem…”
9. “Um homem se afogou e foi tirado do mar desacordado.”
Ou se afogou ou estava desacordado. Se houve afogamento, o homem estava morto; se foi tirado do mar desacordado, o homem quase se afogou.
10. “O filho fez curso de técnico de som até se tornar um nome de referência na área.”
Isso é que é força de vontade. Não largou o curso enquanto não ficou famoso. Para ficar claro: o rapaz fez um curso de técnico de som e tornou-se famoso na sua área. Ficou famoso depois de fazer o curso, e não “fez o curso até ficar famoso”.
Fui eu QUEM FEZ ou Fui eu QUE FIZ?
Tanto faz.
O verbo pode concordar com o pronome QUEM (=quem fez) ou com o antecedente do pronome QUE (=eu que fiz).
Vamos observar o exemplo que um leitor nosso encontrou no livro Memorial do Convento do grande escritor português José Saramago: “…são eles quem está construindo a obra que lhe vou mostrar…”
Nesse caso, embora o antecedente esteja no plural, o autor faz o verbo concordar com o pronome QUEM: “…eles quem ESTÁ construindo…”
Corretíssimo.
Pode-se tornar OU pode se tornar?
Leitor nos escreve: “Na versão eletrônica do Estadão, lia-se a seguinte frase ‘Corinthians pode-se tornar campeão domingo’. Não sei se se trata de um erro de impressão ou, pior ainda, de gramática, mas parece-me que a frase é incorreta.”
A frase pode perecer estranha, mas não está errada. Trata-se de uma ênclise do verbo auxiliar (=pode-se tornar). Essa colocação do pronome átono após o verbo auxiliar é raríssima no português do Brasil. A maioria dos brasileiros diria “Corinthians pode se tornar…” (sem hífen = próclise do verbo principal).
Eu prefiro a ênclise do infinitivo: “Corinthians pode tornar-se campeão no domingo”.
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Veja dicas e exemplos para escrever uma boa redação - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Veja dicas e exemplos para escrever uma boa redação
Uma boa redação: a CONCISÃO
Escutamos muito: um bom texto deve ser claro e conciso.
Não há dúvida de que a clareza é a principal qualidade do texto. Ser conciso, entretanto, é uma luta muito árdua.
Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras, sem prejudicar a clareza da frase. É ser objetivo e direto.
E aqui está a nossa dificuldade. Nós, brasileiros, estamos habituados a falar muito para dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais para impressionar do que comunicar.
Para muitos, esse hábito começa na escola. É só fazer uma “sessão nostalgia” e voltarmos aos bons tempos de colégio, às gloriosas aulas em que o professor anunciava: “hoje é dia de redação”. Você se lembra da “alegria” que contagiava a turma? Você se lembra de algum coleguinha que dizia estar “inspirado”? Você se lembra de algum tema para a redação que tenha deixado toda a turma satisfeita? A verdade é que não aceitávamos tema algum. Pedíamos outro tema. Se o professor apresentasse vários temas, pedíamos “tema livre”. E se fosse “tema livre”, exigíamos um. Era uma insatisfação total. Depois de muita briga, o tema era “democraticamente imposto”. E aí vinha aquela tradicional pergunta: “Quantas linhas?” A resposta era original: “No mínimo 25 linhas”. Eu costumo dizer que 25 é um número traumático na vida do aluno. A partir daquele instante, começava um verdadeiro drama na sua vida: “Meu reino pela 25ª linha”. Valia tudo para se chegar lá. Desde as ridículas letras que “engordavam” repentinamente até a famosa “encheção de linguiça”.
E aqui pode estar a origem de tudo. Nós nos habituamos a “encher linguiça”. Pelo visto, há políticos que fizeram “pós-graduação” no assunto. São os mestres da prolixidade. Falam, falam e não dizem nada. Em algumas situações não têm o que dizer, às vezes não sabem explicar e muitas vezes precisam “enrolar”.
O problema maior, entretanto, é que a doença atinge também outras categorias profissionais.
Vejamos três exemplos retirados de bons jornais:
“A largada será no Leme. A chegada acontecerá no mesmo local da partida.”
Cá entre nós, bastava ter escrito: “A largada e a chegada serão no Leme.”
“O procurador encaminhou ofício à área criminal da Procuradoria determinando que seja investigado…”
Sendo direto: “O procurador mandou investigar”.
“A posição do Governo brasileiro é de que esgotem todas as possibilidades de negociação para que se alcance uma solução pacífica.”
Enxugando a frase: “O Brasil é a favor de uma solução pacífica”.
À TOA ou À-TOA?
Antes do novo acordo ortográfico era assim:
a) À TOA = “a esmo, ao acaso, sem fazer nada” (locução adverbial de modo = refere-se ao verbo): “Passou a vida à toa”; “Anda à toa pelas ruas”;
b) À-TOA = “inútil, desprezível, desocupado, insignificante” (adjetivo = acompanha um substantivo): “Era uma mulher à-toa”; “Não passava de um sujeitinho à-toa”.
Com o novo acordo ortográfico, não devemos mais usar o hífen nesse caso. Assim sendo, a forma adjetiva não tem mais hífen: “mulher à toa”; “sujeitinho à toa”, “probleminha à toa”…
MUITO ou MUITA pouca comida?
O certo é “MUITO POUCA comida”.
1o) “POUCA comida” – POUCA é um pronome adjetivo indefinido porque acompanha um substantivo (=comida). Os pronomes concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem: “poucas pessoas”; “muita saúde”; “tantos livros”; “provas bastantes”…
2o) “MUITO pouca comida” – MUITO é um advérbio de intensidade pois se refere ao pronome adjetivo (=pouca), e não ao substantivo. Os advérbios não apresentam flexão de gênero e número: “Elas estão muito satisfeitas”; “Os jogadores estão pouco confiantes”; “As alunas ficaram bastante felizes”…
O DESAFIO
As dúvidas são:
1ª) VENDE-SE ou VENDEM-SE estas casas ?
2ª) Da 1a A ou À 5ª série ?
3ª) Seja BENVINDO ou BEM-VINDO ?
4ª) ADQUIRI-LOS ou ADQUIRÍ-LOS ?
Respostas:
1ª) VENDEM-SE estas casas. (No plural para concordar com o sujeito “estas casas” = “Estas casas são vendidas”);
2ª) Da 1ª À 5ª série. (Com crase = preposição “a” + artigo “a” que define a 5ª série);
3ª) Seja BEM-VINDO. (O novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa já registra a forma “benvindo” como variante linguística);
4ª) ADQUIRI-LOS. (Sem acento agudo).
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Vícios do “futebolês” - Conheça alguns vícios mais comuns dos comentaristas de futebol - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Conheça alguns vícios mais comuns dos comentaristas de futebol
Vícios do “futebolês”
A linguagem esportiva está sempre a merecer a nossa atenção. Basta um descuido nosso e lá estão os velhos vícios de volta.
Vamos comentar hoje uma série de exemplos coletados por nossos leitores.
Jogavam Flamengo e Peñarol no Estádio Centenário em Montevidéu. Logo após o árbitro ter encerrado o jogo, os jogadores uruguaios partiram para a briga e agrediram os rubro-negros. Além da triste cena de selvageria explícita, tivemos o desgosto de ouvir de um comentarista “especializado”: “Transformaram o Estádio Centenário numa verdadeira praça de guerra”. Por que verdadeira? Poderia ter sido uma “falsa” praça de guerra? E, cá entre nós, ninguém aguenta mais a tal “praça de guerra”. Eta chavãozinho batido! Minha ênfase é intencional. Afinal, todo chavão é “batido”.
Outro dia, o repórter que fazia a cobertura do treino do Corinthians: “O clima entre os jogadores é de alto astral”. O astral entre os jogadores pode estar alto, mas a linguagem dos repórteres esportivos está muito pobre. Foi o décimo quinto alto astral que ouvi só naquele mês. De vez em quando, o “alto astral” poderia virar “bom ambiente”, “jogadores animados”, “time otimista”…
Pode haver quem ache que eu esteja sendo muito rigoroso, mas é importante alertar nossos jornalistas esportivos para a pobreza dos clichês: “lenda viva”, “monstro sagrado”, “subiu no 3o andar (para cabecear)”, “chutar contra o patrimônio”, o zagueiro que “não perde a viagem”…
Mais incrível foi o narrador de um jogo da série B dizer que “o Fulano de Tal cobrou o manual”. Pelo amor de Deus, quem cobrava “manual” era “beque” da década de 50. É do tempo do off side e do center half. É do tempo que narrador era speaker.
Por falar em narrador, um alerta vermelho: “O atacante estava literalmente impedido”. Literalmente como? A quem interessar possa: LITERAL significa “transcrição por escrito, com todas as letras; fiel ao texto original, sem alterar palavra”. Logo, é impossível alguém ficar “literalmente impedido”. Não dá para aceitar nem como metáfora.
Já que falamos de palavras mal usadas. É bom lembrar a “febre” do DEFINIR: “As datas dos jogos ainda não foram definidas” (marcadas, fixadas); “O técnico ainda não definiu o time que sairá jogando” (decidiu, escalou); “Ele ainda não definiu quem será o substituto” (escolheu, decidiu)… Além do empobrecimento vocabular, o verbo DEFINIR está sendo mal usado.
Para facilitar as coisas: “DEFINIR o adversário” não é determinar quem será ele e sim dizer como ele é (negro, alto, forte, 27 anos…).
Portanto, esta história de “definir placar” é uma asneira imensa. DEFINIR não é “dar fim”. Trocaram o velho chavão “dar cifras definitivas ao placar” pelo modernoso e duvidoso “definir o placar”. Piorou.
Para terminar, dois errinhos:
1o) “A bola passou entre a barreira.” Entre a barreira e o quê? Ora, a bola passou pelo meio da barreira ou entre os jogadores que estavam na barreira.
2o) “Ronaldinho preferiu correr com a bola ao invés de chutar.” O certo é “em vez de chutar”. Ele trocou uma coisa por outra. AO INVÉS DE significa “ao contrário de”. Só devemos usar AO INVÉS DE, quando forem coisas opostas. E “correr com a bola” e “chutar” não são coisas opostas.
ENTRE ou DENTRE?
Leitora quer saber quando usar ENTRE e DENTRE.
1) A preposição ENTRE só deve ser usada com “unidades” (entre elementos ou entre conjuntos):
“A bola passou entre os jogadores da barreira.”
“Ronaldinho ficou entre o pai e a mãe da noiva.”
“Andava entre as árvores da floresta.”
“Desejamos a paz entre as nações.”
Devemos evitar o uso da preposição ENTRE antes de palavras com ideia “coletiva”:
“A bola passou entre a barreira.” (= “no meio da barreira” ou poderia ser “entre a barreira e o juiz”)
“Ronaldinho ficou entre o casal.” (= “entre os pais da noiva” ou poderia ser “entre o casal e a noiva”)
“Andava entre a floresta.” (= “entre as árvores” ou poderia ser “entre a floresta e o rio”)
“Desejamos a paz entre a população.” (= “entre os homens, entre as pessoas, entre os habitantes, entre os povos” ou poderia ser “entre a população e o governo”)
2) Devemos usar a forma DENTRE quando há um sentido de “movimento” ou de “posse” (=de entre):
“Dentre os relacionados, saiu Ronaldinho.”
“Dentre os candidatos, surgiu Fulano de Tal.”
“Um dentre os acusados é o assassino.”
“Alguém dentre nós terá de resolver o problema.”
PARA ONDE ou PARA AONDE?
Leitor quer saber qual é forma correta: “PARA ONDE ou PARA AONDE vão nossas crianças?”
O certo é “PARA ONDE vão nossas crianças”.
A forma “para aonde” simplesmente não existe.
Existem AONDE (=quando você vai “a” algum lugar) e PARA ONDE (=quando você vai “para” algum lugar):
“Ipanema é a praia AONDE ela vai em todos os fins de semana.” (=Ela vai à praia);
“São Paulo é a cidade PARA ONDE ele foi transferido.” (=Ele foi transferido para São Paulo).
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O verbo HAVER - ‘Há muito tempo atrás’ é redundante; entenda mais sobre o verbo ‘haver’ - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
‘Há muito tempo atrás’ é redundante; entenda mais sobre o verbo ‘haver’
O verbo HAVER
É frequente ouvirmos a expressão “HÁ MUITO TEMPO ATRÁS”. Trata-se de uma redundância, pois, se ocorreu “HÁ MUITO TEMPO”, só pode ter sido “MUITO TEMPO ATRÁS”.
Aprendemos, faz tempo, que devemos usar a forma “HÁ”, do verbo “HAVER”, quando nos referimos a um tempo já transcorrido: “Não nos vemos HÁ dois dias”; “HÁ dez anos que ele partiu”.
É interessante observar que a redundância “HÁ…ATRÁS” só ocorre com o verbo “HAVER”. Quando se opta pelo verbo “FAZER”, ninguém diz “FAZ dez anos ATRÁS”. Aí todos falam corretamente: “FAZ dez anos”; “FAZ muito tempo”.
É importante lembrar também que, caso a ideia seja de “tempo futuro” ou de “distância”, devemos usar a preposição “a”: “Só nos veremos daqui a dois dias”; “Estamos a dez quilômetros do vilarejo”.
Vamos ver se consigo simplificar as “coisas”.
A dúvida é uma só: é verbo ou não é verbo?
Se for, devemos escrever “HÁ”; se não for, trata-se da preposição “a”. Para provar que é verbo, podemos usar o “macete” da substituição do “HÁ” pela forma “FAZ”: “Não nos vemos há (=faz) dois dias”, “Há (=faz) dez anos que ele partiu.”
Caso a substituição não seja possível, significa que não é verbo. Em “Só nos veremos daqui a dois dias”, não é possível substituirmos por “daqui faz dois dias”. O mesmo ocorre em “Estamos a dez quilômetros do lugarejo” (“Estamos faz dez quilômetros” não faz sentido).
Usamos “ano-luz” para medir distância: “…um astro semelhante ao sol a 153 anos-luz de distância da Terra.” O certo, portanto, é “…estão a anos-luz de distância…”
Por outro lado, está correto o leitor escrever: “o eclipse ocorreu há (=faz) 153 anos” e “…ocorreu há (=faz) muitos anos terrestres atrás”. O “atrás” é que é desnecessário. Agora, temos a ideia de “tempo transcorrido”.
HÁ ou HAVIA?
Leitor quer saber: “Ela estava em cena HÁ ou HAVIA mais de uma hora”.
Segundo o princípio da correspondência dos tempos verbais, devemos dizer que “ela ESTAVA em cena HAVIA mais de uma hora”.
O princípio é o seguinte: devemos usar “HAVIA” em vez de “HÁ”, quando o verbo que acompanha está no pretérito imperfeito (=estava, fazia, era) ou no pretérito mais-que-perfeito (=estivera, fizera, soubera, tinha estado, havia feito).
Em caso de dúvida, podemos usar o seguinte “macete”: substituir o verbo “HAVER” pelo “FAZER”. Se o resultado da troca for “FAZIA” (e não “FAZ”), use “HAVIA” (e não “HÁ”):
“ESTAVA sem comer HAVIA (=fazia) três dias.”
“HAVIA (=fazia) dez anos que o clube não ERA campeão.”
“Ela ESTIVERA naquela cidade HAVIA (=fazia) muito tempo.”
É importante observar que a ação se encerrou. A forma HÁ (=faz) indica que a ação verbal prossegue. Veja a diferença:
a) “HAVIA dez anos que o clube não era campeão.” (=o clube acabou
de ganhar o campeonato);
b) “HÁ dez anos que o clube não é campeão.” (=o clube continua sem
ganhar o campeonato).
TEM ou HÁ?
Leitor considerou uma vergonha o anúncio: “No Brasil não TEM maremotos, vulcões, terremotos, furacões.”
Comentário de outro leitor: “Aprendi que não devemos confundir os verbos “HAVER” e “TER”: ‘Nesta banca HÁ (=existe) várias revistas’ e ‘Esta banca TEM (=possui) várias revistas’. Os gênios da publicidade são os que mais cometem tal erro.”
Os nossos leitores têm razão em parte. Segundo a gramática tradicional, não devemos usar o verbo “TER” no sentido de “HAVER” (=existir).
Não podemos, entretanto, esquecer que o uso do verbo “TER” em lugar do verbo “HAVER” é uma das características do Português falado no Brasil. Isso significa que, num texto informal que queira retratar a linguagem coloquial brasileira, o uso do verbo TER é aceitável.
Não devemos reduzir o caso a simples discussão de certo ou errado. Inadequado seria usar o verbo TER (=haver, existir) em textos formais que exijam uma linguagem mais cuidada, que siga os padrões da chamada norma culta.
O GRAMA ou A GRAMA?
Estava escrito: “…a grama da gordura animal tem nove calorias, enquanto a grama da proteína do feijão tem quatro calorias.”
Nossos leitores têm razão. O autor deve estar fazendo referência “à grama” que o animal comeu e virou gordura e também “à grama” que nasceu junto aos pés de feijão.
A história é velha, mas vamos repetir. O substantivo GRAMA quando se refere à massa (na linguagem popular, falamos “peso”) é MASCULINO.
Portanto, “…O GRAMA da gordura animal tem nove calorias, enquanto O GRAMA da proteína do feijão tem quatro calorias.”
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Uso dos NEOLOGISMOS - Neologismo divide entusiastas das novidades e defensores da tradição - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Neologismo divide entusiastas das novidades e defensores da tradição
Uso dos NEOLOGISMOS
O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores. É bom lembrar que a edição lançada em 1999, última publicada pela Editora Nova Fronteira, apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído pela nova edição.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. Esses números aumentam a cada nova edição. Isso é normal. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem de pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está devidamente registrado no último VOLP e nas novas edições dos nossos dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor nos manda o seguinte exemplo: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.
Portanto, não sejamos radicais. Bom senso e cautela não fazem mal a ninguém. E ter opinião não é crime.
ACURADO e APURADO?
ACURADO significa “esmerado, apurado, aprimorado”;
APURADO significa “que tem ou é feito com apuro; elegante, esmerado, fino; correto, perfeito; apressado, impaciente”. (Dicionário Larousse)
Como podemos observar, em determinadas situações ACURADO e APURADO podem ser sinônimos.
Leitor pergunta a respeito da frase “Eles ficaram surpresos com a acurácia das previsões…”: “Existe a palavra ACURÁCIA?”
Existe. Tanto o Vocabulário Ortográfico da ABL quanto o dicionário Aurélio registram a palavra ACURÁCIA, que significa “precisão”. Era exatamente isso que o autor queria dizer: “Eles ficaram surpresos com a PRECISÃO das previsões…”
RANQUEAMENTO?
Leitor quer saber se RANQUEAMENTO é um neologismo aceitável ou não?
É uma questão muito subjetiva.
Se você quer saber se a palavra “ranqueamento” tem registro em algum dicionário ou no Vocabulário Ortográfico da ABL, a resposta é SIM e NÃO.
A palavra “ranqueamento” é derivada de ranking, que já aparece registrada em alguns dicionários, como o Michaelis.
Como as últimas edições de nossos dicionários incorporaram um grande número de estrangeirismos usados no Brasil, ficarei surpreso se não encontrar o registro de ranking e de “ranqueamento”. Só pode ser esquecimento.
Nada tenho contra a palavra ranqueamento. Na minha opinião, é bem-vinda.
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Uso do ‘mesmo’ e o duelo ‘vir’ X ‘vier’ - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Uso do ‘mesmo’ e o duelo ‘vir’ X ‘vier’
Algumas frases publicadas em vários jornais.
1ª) “Solicito ao prezado professor informar se há erro no emprego da palavra MESMOS no seguinte trecho: “…trabalhos da CPI, fazendo com que não venham os mesmos a ser declarados nulos futuramente…”
Para os gramáticos mais rigorosos, existe erro: não deveríamos usar o pronome MESMO para substituir termos expressos anteriormente (=trabalhos da CPI). Só poderíamos usar a palavra MESMO como pronome de reforço: “Eu mesmo fiz este trabalho” (=eu próprio); “Ela mesma resolveu o caso” (=ela própria); “Eles feriram a si mesmos” (=a si próprios)…
Entretanto, devido ao uso consagrado, muitos estudiosos da língua portuguesa já aceitam o uso do MESMO como pronome substantivo (=substituindo um termo anterior).
Eu não considero erro, mas sou contra. Sugiro que se evite o uso do pronome MESMO em lugar de algum termo já expresso. Ainda que não seja erro, caracteriza pobreza de estilo. Muitas vezes usamos a palavra mesmo porque falta vocabulário ou porque não sabemos usar outros pronomes.
Na frase em questão, o pronome mesmos poderia simplesmente ser omitido: “…fazendo com que não venham a ser declarados nulos…”
2ª) E a concordância na frase “…a grande maioria das empresas de educação superior foram fragorosamente chumbadas…” está correta?
Erro não é, pois nossas gramáticas preveem a tal concordância atrativa: o verbo concorda com o adjunto (=empresas) devido à proximidade.
Não é, entretanto, o nosso padrão. A nossa orientação é fazer o verbo concordar rigorosamente com o núcleo do sujeito (=maioria). Para nós, portanto, deveria ser: “…a grande MAIORIA das empresas de educação superior FOI fragorosamente CHUMBADA…”
3ª) E a frase “Fechar as que têm mal desempenho…” está correta?
Se não escrevemos BEM, é porque estamos escrevendo MAL. Se o desempenho das universidades não foi BOM, devemos “fechar as que têm MAU desempenho”.
4ª) E a frase “Grande empresa também fica na mão” é boa?
Concordo com o nosso leitor. Não é uma questão de certo ou errado. Trata-se de uma expressão inadequada ao nosso texto. “Ficar na mão” é uma expressão excessivamente coloquial e não é apropriada à linguagem dos bons jornais. Deve ser evitada, principalmente em títulos. Termos e expressões coloquiais são adequados somente em textos informais.
5ª) Leitor diz ter lido num jornal on-line: “O irmão do deputado cujo
mandato foi cassado pela Câmara, teve sua prisão preventiva decretada em novembro e estava foragido há um mês.” A dúvida do leitor é a seguinte: CUJO refere-se ao irmão ou ao deputado?
Nosso leitor tem razão. Trata-se de uma frase ambígua. O pronome
relativo CUJO pode fazer referência tanto ao deputado quanto ao irmão dele. É lógico que o autor da frase usou o CUJO para referir-se ao ex-deputado, mas quem não acompanha as páginas policiais ou políticas poderia perfeitamente entender que a Câmara tinha cassado o mandato do irmão.
É a mania de dar várias informações numa única frase. E a desculpa de que o leitor já sabe quem foi cassado é absurda. Se o leitor já sabia, para que repetir a informação?
VIR ou VIER?
1) VIR pode ser:
a) INFINITIVO:
“Eles precisam VIR ao nosso escritório para assinar o contrato.”
Cuidado: “Ele vai vim” está totalmente errado. O certo é “ele vai VIR”. Melhor ainda: “ele VIRÁ”.
b) FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo VER:
“Quando eu VIR o filme, poderei opinar.”
“Se você VIR o projeto, vai adorar.”
Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu ver o filme…” e “Se você ver o projeto…” está errado.
2) VIER é FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo VIR:
“Quando eu VIER novamente, assinaremos o contrato.”
“Se você VIER ao Rio de Janeiro, vai adorar.”
Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu vir aqui novamente” e “Se você vir ao Rio de Janeiro” está errado.
O DESAFIO
Qual é a forma correta?
1ª) Ver O jogo ou AO jogo?
2ª) Assistir O jogo ou AO jogo?
Segunda a regência clássica, exigida em nossos concursos, as respostas corretas são:
1ª) Ver O jogo (VER é verbo transitivo direto);
2ª) Assistir AO jogo (ASSISTIR, no sentido de “ver”, é transitivo indireto).
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Quais cidades, estados brasileiros e países pedem artigo definido? - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
Quais cidades, estados brasileiros e países pedem artigo definido?
…quando devemos usar os artigos definidos antes dos nomes de cidades, estados brasileiros e países?
É importante lembrarmos que o uso do artigo definido pode mudar o sentido da frase. “Está preso em presídio estadual” é diferente de “Está preso no presídio estadual”. No primeiro caso, o estado tem dois ou mais presídios; no segundo, só há um presídio estadual.
Quanto aos nomes de cidades, estados e países, o problema é sério e merece muito cuidado.
1) São poucas cidades que exigem artigo: o Rio de Janeiro, o
Porto, o Cairo… Os nomes da maioria das cidades são usados sem artigo: São Paulo, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, Paris, Roma, Lisboa…
Quando o nome da cidade é caracterizado por qualquer expressão, o artigo se torna obrigatório: a progressista Curitiba, a bela Porto Alegre, a antiga Roma, a Paris dos meus sonhos.
2) Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco,
Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe são usados sem artigo. Os demais estados brasileiros exigem o artigo: o Amazonas, o Pará, o Ceará, a Paraíba, a Bahia… Com Alagoas e Minas Gerais, o artigo é facultativo: hoje usamos Alagoas e Minas Gerais (=sem artigo); mas também é correto usar “as Alagoas” e “as Minas Gerais”.
3) A maioria dos nomes de países exigem o artigo: a Argentina, o Brasil, a Alemanha, o Peru, a Espanha, o Uruguai… Mas há um bom número que rejeita o artigo: Israel, Portugal, Cuba, Angola, Moçambique, Cabo Verde…
Como podemos constatar, não há propriamente uma regra.
DÚVIDA DO LEITOR
Agilizar ou agilitar?
Escreve o nosso leitor: “Se num dicionário consta determinado vocábulo, isso não quer dizer que ele seja vernáculo. Especialmente se a formação da palavra está em desacordo com as normas do idioma (agilizar, por exemplo, é horrível; se não escrevemos facilizar, habilizar, devemos escrever agilitar)”.
Discordo. A incorporação de um neologismo se deve ao seu uso consagrado. E a formação de agilizar não está em desacordo com as normas do idioma. Se temos facilitar e habilitar (formadas com o sufixo “-itar”), também temos normalizar e utilizar (formadas com o sufixo “-izar”).
Quando ao uso, não tenho dúvida alguma de que a maioria fala agilizar. Nas poucas vezes em que ouvi alguém dizer “agilitar”, sempre percebi certo mal-estar e aquela desagradável situação: todos olhando para mim à espera de uma reação.
DÚVIDA DO LEITOR
VIGIR ou VIGER?
Observação de um leitor a respeito de um informe publicitário: “O controle de preços dos medicamentos é inconstitucional e é impossível de vigir porque vai contra o princípio da livre concorrência estabelecido pela Constituição.”
O nosso atento leitor tem razão. O verbo vigir não existe. O verbo é viger, sinônimo de “vigorar, ter validade”. Do verbo viger derivam-se o substantivo vigência e o adjetivo vigente: “Durante a vigência do contrato…”; “O prazo vigente é…” Portanto, o correto é dizer que “o controle de preços ainda está vigendo”.
DESAFIO
Qual é o significado de INANIÇÃO?
(a) Absorção pelas vias respiratórias, de vapor de água puro ou misturado a substâncias medicamentosas;
(b) Resultado da privação total ou parcial de alimento, fraqueza, extrema debilidade;
(c) Que nunca se ouviu dizer, extraordinário, espantoso.
Resposta:
Letra (b) = inanição é o estado de inane, que significa “vazio, oco, que nada contém”. Falamos muito de inanição quando nos referimos àquelas pessoas que se encontram em estado de extrema fraqueza por falta total ou parcial de alimentação.
A absorção pelas vias respiratórias, de vapor de água puro ou misturado a substâncias medicamentosas é inalação.
E o que nunca se ouviu dizer é inaudito.
CRÍTICA DO LEITOR
“Todos os pedidos de rede de rádio e TV, de qualquer ministro, é atendido…” e “Não existe, no Brasil, instalações para internação específica de dependentes químicos”.
Observação de um leitor muito atento: “A minha impressão é que há dois grandes culpados pela maioria dos nossos erros de concordância: 1o) a distância entre o sujeito e o verbo; 2o) o sujeito posposto (=sujeito depois do verbo)”.
Concordo com nosso leitor. Ele está corretíssimo:
1o) a distância entre o sujeito e o verbo: “Todos os pedidos…são atendidos…”;
2o) o sujeito posposto (=sujeito depois do verbo): “Não existem…instalações…”
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O que significa “estar ruim da bola”? - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa
O que significa “estar ruim da bola”?
Se você imaginou que eu estaria disposto a falar do atual estágio do futebol brasileiro, enganou-se. Não preciso “estar ruim da bola” para perceber que os nossos “craques”, no momento, andam meio “ruins de bola”. Mas…isso é um outro problema.
Não quero falar da bola bola, do esférico como dizem nossos irmãos portugueses. A “bola” a que estou fazendo referência é a cabeça. “Ruim da bola” é uma expressão de gíria muito antiga, que significa “estar ruim da cabeça, meio louco, meio tonto, meio bobo”.
E aqui é que está a surpresa. Segundo o jornalista, antropólogo e pesquisador J.B.Serra e Gurgel, autor do ótimo e seriíssimo Dicionário de Gíria, a palavra “bola” aparece registrada como gíria, ou seja, significando “cabeça”, em 1712.
Segundo o mesmo dicionário, existem várias expressões de gíria ainda conhecidas hoje que nasceram num passado muito distante. Vejamos alguns exemplos com sua data de registro:
1759 – cara de lua cheia, cara de fuinha, franzina, fedelho, festa de arromba, levar uma tunda, nariz de cera, ninharia, sonso, zorra…
1903 – cantar (conquistar com galanteios), canudo (diploma), enrabichar (apaixonar-se), galinha (mulher sapeca), gostosa (mulher bonita), lábia (astúcia), sapeca (namoradeira)…
1912 – dar um beiço (não pagar), bobo (relógio), mina (mulher), otário (bobo), patota (grupo), pisante (sapato), talagada (gole de aguardente), zoeira (barulho)…
1920 – bocó (palerma), cafundó (lugar muito retirado e deserto), jururu (triste), pamonha (pessoa apalermada), pancada (maluco), pileque (bebedeira), sabão (repreensão)…
1953 – abacaxi (coisa que só dá trabalho), birosca (tendinha ordinária), dar o maior bode (problemão), gaita (dinheiro), leão de chácara (vigia, segurança), tapado (estúpido), uva (mulher bonita), xaropada (coisa enfadonha)…
1959 – barbada (jogo fácil), calhambeque (carro velho), cambito (pernas finas), galinhagem (libertinagem), jujuba (bala de goma), parrudo (forte, gordo), xodó (predileção amorosa)…
O mais incrível é tomar consciência de que palavras que povoaram minha juventude não eram tão jovens como eu imaginava.
A verdade é que muitas palavras e expressões usadas hoje em dia como gíria “atual” foram criadas por nossos avós.
DICA DE CONCORDÂNCIA
Com o verbo CUSTAR:
É unipessoal. Só deveria ser usado na 3a. pessoa do singular.
“Francamente, CUSTEI a me acostumar e até achei o conjunto um pouco feio.” Embora usual, essa forma não segue rigorosamente a tradição gramatical. O correto seria “custou-me”, mas isso não é comum na fala dos brasileiros. Podemos substituir por outras formas: “Francamente, FOI DIFÍCIL eu me acostumar …”
Não esqueça que, quando o sujeito for “oracional”, o verbo deve concordar no singular: “CUSTOU-me perceber a verdade”; “CUSTA a nós aceitar essas condições”; “No Vestibular, BASTA conseguir três mil pontos”; “É NECESSÁRIO convocar onze craques para poder sonhar com a Copa”.
CRÍTICAS DOS LEITORES
“Cheques sem fundo” e “Vale à pena”.
O nosso sempre atento leitor tem razão mais uma vez.
O cheque é sem fundos. Fundo se refere à profundidade: “Era possível ver o fundo do mar”. Quando nos referimos a “bens, dinheiro, reservas”, aí estamos falando de fundos.
Alguma coisa só vale a pena se for sem o acento grave indicativo da crase. O verbo valer é transitivo direto, isto é, não exige preposição. Isso significa que a crase é impossível. Temos apenas o artigo definido “a”. Vale a pena da mesma forma que vale o sacrifício.
DESAFIO
Que significa trimensal?
a) três vezes no mês;
b) de três em três meses;
c) de seis em seis meses.
Resposta:
Letra (a) = tri (=três) + mensal (=por mês).
De três em três meses é trimestral; e de seis em seis meses é semestral.
DÚVIDA DO LEITOR
“Posso construir uma frase colocando a conjunção no final, como em ‘…estava magoado, entretanto”? E se a linguagem fosse poética, poderia?”
É claro que pode. Nada contra.
A crítica que poderíamos fazer é contra certo vício que, volta e meia, ouço por aí. É a desgraça do “no entretanto”, que deve ser uma mistura de entretanto com no entanto. Mistura inaceitável, embora sejam conjunções adversativas. São sinônimas de “mas, porém, contudo, todavia”.
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segunda-feira, 8 de abril de 2013
Interpretação de Textos e os Modernos Vestibulares - Matéria Português
Interpretar exige raciocínio, discernimento e compreensão do mundo
A interpretação de textos é de fundamental importância para o vestibulando. Você já se perguntou por quê? Há alguns anos, as provas de Português, nos principais vestibulares do país, traziam uma frase, e dela faziam-se as questões. Eram enunciados soltos, sem conexão, tão ridículos que lembravam muito aquelas frases das antigas cartilhas: "Ivo viu a uva". Os tempos são outros, e, dentro das modernas tendências do ensino de línguas, fica cada vez mais claro que o objetivo de ensinar as regras da gramática normativa é simplesmente o texto. Aprendem-se as regras do português culto, erudito, a fim de melhorar a qualidade do texto, seja oral, seja escrito.
Nesse sentido, todas as questões são extraídas de textos, escolhidos criteriosamente pelas bancas, em função da mensagem/conteúdo, em função da estrutura gramatical. Ocorrem casos de provas contextualizadas, em que todos os textos abordam o mesmo assunto, ou seja, provas monotemáticas - exemplo adotado pela PUC/RS. Por sua vez, a Unisinos prefere o tema único nas 50 questões de humanas (Português, Língua Estrangeira, Geografia e História ).
Dessa maneira, fica clara a importância do texto como objetivo último do aprendizado de língua.
Quais são os textos escolhidos?
Textos retirados de revistas e de jornais de circulação nacional têm a preferência. Portanto, o romance, a poesia e o conto são quase que exclusividade das provas de Literatura (que também trabalham interpretação, por evidente). Assim, seria interessante observar as características fundamentais desses produtos da imprensa.
Os Artigos
São os preferidos das bancas. Esses textos autorais trazem identificado o autor. Essas opiniões são de expressa responsabilidade de quem as escreveu - chamado aqui de articulista - e tratam de assunto da realidade objetiva, pautada pela imprensa. Vejamos um exemplo: um dado conflito eclode em algum ponto do planeta (a todo o instante surge algum), e o professor Décio Freitas, historiador, abordará, em seu artigo em ZH, os aspectos históricos do embate. Portanto, os temas são, quase sempre, bem atuais.
Trata-se, em verdade, de texto argumentativo, no qual o autor/emissor terá como objetivo convencer o leitor/receptor. Nessa medida, é idêntico à redação escolar, tendo a mesma estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Exemplo de Artigo
Os nomes de quase todas as cidades que chegam ao fim deste milênio como centros culturais importantes seriam familiares às pessoas que viveram durante o final do século passado. O peso relativo de cada uma delas pode ter variado, mas as metrópoles que contam ainda são basicamente as mesmas: Paris, Nova Iorque, Berlim, Roma, Madri, São Petesburgo.
(Nelson Archer - caderno Cidades, Folha de S. Paulo, 02/05/99)
Os Editoriais
Novamente, são opinativos, argumentativos e possuem aquela mesma estrutura. Todos os jornais e revistas têm esses editoriais. Os principais diários do país produzem três textos desse gênero. Geralmente um deles tratará de política; outro, de economia; um outro, de temas internacionais. A diferença em relação ao artigo é que o autor, o editorialista, não expressa sua opinião, apenas serve de intermediário para revelar o ponto de vista da instituição, da empresa, do órgão de comunicação. Muitas vezes, esses editoriais são produzidos por mais de um profissional. O editorialista é, quase sempre, antigo na casa e, obviamente, da confiança do dono da empresa de comunicação. Os temas, por evidente, são a pauta do momento, os assuntos da semana.
As Notícias
Aqui temos outro gênero, bem diverso. As notícias são autorais, isto é, produzidas por um jornalista claramente identificado na matéria. Possuem uma estrutura bem fechada, na qual, no primeiro parágrafo (também chamado de lide), o autor deve responder às cinco perguntinhas básicas do jornalismo: Quem? Quando? Onde? Como? E por quê?
Essa maneira de fazer texto atende a uma regra do jornalismo moderno: facilitar a leitura. Se o leitor/receptor desejar mais informações sobre a notícia, que vá adiante no texto. Fato é que, lendo apenas o parágrafo inicial, terá as informações básicas do assunto. A grande diferença em relação ao artigo e ao editorial está no objetivo. O autor quer apenas "passar" a informação, quer dizer, não busca convencer o leitor/receptor de nada. É aquele texto que os jornalistas chamam de objetivo ou isento, despido de subjetividade e de intencionalidade.
Exemplo de Notícia
O juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, negou-se a responder ontem à CPI do judiciário todas as perguntas sobre sua evolução patrimonial. Ele invocou a Constituição para permanecer calado sempre que era questionado sobre seus bens ou sobre contas no exterior.
(Folha de S. Paulo, 05/05/99)
As Crônicas
Estamos diante da Literatura. Os cronistas não possuem compromisso com a realidade objetiva. Eles retratam a realidade subjetiva. Dessa maneira, Rubem Braga, cronista, jornalista, produziu, por exemplo, um texto abordando a flor que nasceu no seu jardim. Não importa o mundo com suas tragédias constantes, mas sim o universo interior do cronista, que nada mais é do que um fotógrafo de sua cidade. É interessante verificar que essas características fundamentais da crônica vão desaparecendo com o tempo. Não há, por exemplo, um cronista de Porto Alegre (talvez o último deles tenha sido Sérgio da Costa Franco).
Se observarmos o jornal Folha de S. Paulo, teremos, junto aos editoriais e a dois artigos sobre política ou economia, uma crônica de Carlos Heitor Cony, descolada da realidade, se assim lhe aprouver (Cony, muitas vezes, produz artigos, discutindo algo da realidade objetiva). O jornal busca, dessa maneira, arejar essa página tão sisuda. A crônica é isso: uma janela aberta ao mar. Vale lembrar que o jornalismo, ao seu início, era confundido com Literatura. Um texto sobre um assassinato, por exemplo, poderia começar assim: " Chovia muito, e raios luminosos atiravam-se à terra. Num desses clarões, uma faca surge das trevas..." Dá-se o nome de nariz de cera a essas matérias empoladas, muito comuns nos tempos heróicos do jornalismo.
Sobre a crônica, há alguns dados interessantes. Considerada por muito tempo como gênero menor da Literatura, nunca teve status ou maiores reconhecimentos por parte da crítica. Muitos autores famosos, romancistas, contistas ou poetas, produziram excelentes crônicas, mas não são conhecidos por isso. Carlos Drummond de Andrade é um belo exemplo. Pela grandeza de sua poesia, o grande cronista do cotidiano do Rio de Janeiro foi abafado. O mesmo pode-se falar de Olavo Bilac, que, no início do século passado, passou a produzir crônicas num jornal carioca, em substituição a outro grande escritor, Machado de Assis.
Essa divisão dos textos da imprensa é didática e objetiva esclarecer um pouco mais o vestibulando. No entanto, é importante assinalar que os autores modernos fundem essa divisão, fazendo um trabalho misto. É o caso de Luis Fernando Verissimo, que ora trabalha uma crônica, com os personagens conversando em um bar, terminando por um artigo, no qual faz críticas ao poder central, por exemplo. Martha Medeiros, por seu turno, produz, muitas vezes, um artigo, revelando a alma feminina. Em outros momentos, faz uma crônica sobre o quotidiano.
Exemplo de Crônica
Quando Rubem Braga não tinha assunto, ele abria a janela e encontrava um. Quando não encontrava, dava no mesmo, ele abria a janela, olhava o mundo e comunicava que não havia assunto. Fazia isso com tanto engenho e arte que também dava no mesmo: a crônica estava feita.
Não tenho nem o engenho nem a arte de Rubem, mas tenho a varanda aberta sobre a Lagoa - posso não ver melhor, mas vejo mais. Otto Maria Carpeaux não gostava do gênero "crônica", nem adiantava argumentar contra, dizer, por exemplo, que os cronistas, uns pelos outros, escreviam bem. Carpeaux lembrava então que escrever é verbo transitivo, pede objeto direto: escrever o quê? Maldade do Carpeaux. (...)
Nelson Rodrigues não tinha problemas. Quando não havia assunto, ele inventava. Uma tarde, estacionei ilegalmente o Sinca-Chambord na calçada do jornal. Ele estava com o papel na máquina e provisoriamente sem assunto. Inventou que eu descia de um reluzente Rolls Royce com uma loura suspeita, mas equivalente à suntuosidade do carro. Um guarda nos deteve, eu tentei subornar a autoridade com dinheiro, o guarda não aceitou o dinheiro, preferiu a loura. Eu fiquei sem a multa e sem a mulher. Nelson não ficou sem assunto.
(Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 02/01/98)
A interpretação serve para Química!
Responda rápido a uma pergunta: O que há em comum entre os vestibulandos aprovados nos primeiros lugares? Será que possuem semelhanças? Sim, de fato, o que os identifica é a leitura e a curiosidade pelo mundo que os cerca. Eles lêem bastante, e lêem de tudo um pouco. As instituições de ensino superior não querem mais aquele aluno que decora regrinhas. Elas buscam o cidadão que possui leitura e conhecimento de mundo. Nesse aspecto, as questões, inclusive das provas de exatas, muitas vezes pedem criticidade e compreensão de enunciados. Quantas vezes você, caro vestibulando, não errou uma questão de Física ou de Biologia por não entender o que foi pedido. Pois estamos falando de interpretação de textos. A leitura e a interpretação tornam-se, dessa maneira, exigência de todas as disciplinas. E não pense que essa capacidade crítica de entender o texto escrito (e até falado) é exclusividade do vestibular. Quando você for buscar uma vaga no mercado de trabalho, a criticidade, a capacidade de comunicação e de compreensão do mundo serão atributos importantes nessa concorrência. Lembre-se disso na hora de planejar os estudos para os próximos vestibulares.
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Interpretação de Textos - Exercícios Testes - Matéria Português
Instruções Gerais para interpretação de textos
Em primeiro lugar, você deve ter em mente que interpretação de textos em testes de múltipla escolha pressupõe armadilhas da banca. Isso significa dizer que as questões são montadas de modo a induzir o incauto e sofrido vestibulando ao erro. Nesse sentido, é importante observar os comandos da questão (de acordo com o texto, conforme o texto, segundo o autor...). Se forem esses os comandos, você deve-se limitar à realidade do texto. Muitas vezes, as alternativas extrapolam as verdades do texto; ou ainda diminuem essas mesmas verdades; ou fazem afirmações que nem de longe estão no texto.
Exemplo de exercício editorial que caiu na prova da UFRGS
Em 1952, inspirado nas descrições do viajante Hans Staden, o alemão De Bry desenhou as cerimônias de canibalismo de índios brasileiros. São documentos de alto valor histórico (...)
Porém não podem ser vistos como retratos exatos: o artista, sob influência do Renascimento, mitigou a violência antropofágica com imagens idealizadas de índios, que ganharam traços e corpos esbeltos de europeus. As índias ficaram rechonchudas como as divas sensuais do pintor holandês Rubens.
No século XX, o pintor brasileiro Portinari trabalhou o mesmo tema. Utilizando formas densas, rudes e nada idealizadas, Portinari evitou o ângulo do colonizador e procurou não fazer julgamentos. A Antropologia persegue a mesma coisa: investigar, descrever e interpretar as culturas em toda a sua diversidade desconcertante.
Assim, ela é capaz de revelar que o canibalismo é uma experiência simbólica e transcendental - jamais alimentar.
Até os anos 50, waris e kaxinawás comiam pedaços dos corpos dos seus mortos. Ainda hoje, os ianomâmis misturam as cinzas dos amigos no purê de banana. Ao observar esses rituais, a Antropologia aprendeu que, na antropogafia que chegou ao século XX, o que há é um ato amoroso e religioso, destinado a ajudar a alma do morto a alcançar o céu. A SUPER, ao contar toda a história a você, pretende superar os olhares preconceituosos, ampliar o conhecimento que os brasileiros têm do Brasil e estimular o respeito às culturas indígenas. Você vai ver que o canibalismo, para os índios, é tão digno quanto a eucaristia para os católicos. É sagrado. (adaptado de: Superinteressante, agosto, 1997, p.4)
Questão da prova
Considere as seguintes informações sobre o texto:
I - Segundo o próprio autor do texto, a revista tem como único objetivo tornar o leitor mais informado acerca da história dos índios brasileiros.
II - Este texto introduz um artigo jornalístico sobre o canibalismo entre índios brasileiros.
III - Um dos principais assuntos do texto é a história da arte no Brasil.
Quais são corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e III
e) Apenas II e III
Resposta correta: B
Comentários:
A afirmação I usa a palavra único, o vestibulando deve cuidar muito com essa palavrinha, geralmente ela traz uma armadilha. A afirmação reduz o texto, que vai bem além de ter como único objetivo informar sobre a história dos índios. Aliás, não é a história dos índios, mas sim da antropofagia deles.
A afirmação III está erradíssima, pois a história da arte está longe de ser um dos assuntos principais do texto.
Essas afirmações da banca merecem algumas observações. Em primeiro lugar, a afirmação I diz: "Segundo o próprio autor do texto". Mas quem é esse autor, tendo em vista que se trata de editorial? Não há um autor expresso.
A afirmação II, considerada como certa, traz uma imprecisão. O texto não introduz um artigo jornalístico. Como vimos, artigo é bem diferente. O editorial introduz matéria ou reportagem, nunca um artigo. Percebe-se aqui que os professores que elaboraram o texto desconhecem a tipologia e a nomenclatura textual do moderno jornalismo.
Outros exercícios de interpretação de texto:
Vamos aproveitar os textos das provas da UFRGS 2000 e 1999, para formularmos algumas questões bem emblemáticas em relação à interpretação de textos.
Questão 1
Qual das alternativas abaixo é a correta:
No Brasil colonial, os portugueses e suas autoridades evitaram a concentração de escravos de uma mesma etnia nas propriedades e nos navios negreiros.
A) Os portugueses impediram totalmente a concentração de escravos de mesma etnia nas propriedades e nos navios negreiros.
Essa política, a multiplicidade lingüística dos negros e as hostilidades recíprocas que trouxeram da África dificultaram a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano, incluindo-se aí a preservação das línguas.
B) A política dos portugueses foi ineficiente, pois apenas a multiplicidade cultural dos negros, de fato, impediu a formação de núcleos solidários.
Os negros, porém, ao longo de todo o período colonial, tentaram superar a diversidade de culturas que os dividia, juntando fragmentos das mesmas mediante procedimentos diversos, entre eles a formação de quilombos e a realização de batuques e calundus. (...)
C) A única forma que os negros encontraram para impedir essa ação dos portugueses foi formando quilombos e realizando batuques e calundus.
As autoridades procuraram evitar a formação desses núcleos solidários, quer destruindo os quilombos, que causavam pavor aos agentes da Coroa - e, de resto, aos proprietários de escravos em geral -, quer reprimindo os batuques e os calundus promovidos pelos negros. Sob a identidade cultural, poderiam gerar uma consciência danosa para a ordem colonial. Por isso, capitães-do-mato, o Juízo Eclesiástico e, com menos empenho, a Inquisição foram colocados em seu encalço.
D) A Inquisição não se empenhou em reprimir a cultura dos negros, porque estava ocupada com ações maiores.
Porém alguns senhores aceitaram as práticas culturais africanas - e indígenas - como um mal necessário à manutenção dos escravos. Pelo imperativo de convertê-los ao catolicismo, ainda, alguns clérigos aprenderam as línguas africanas, como um jesuíta na Bahia e o padre Vieira, ambos no Seiscentos. Outras pessoas, por se envolverem no tráfico negreiro ou viverem na África - como Matias Moreira, residente em Angola no final do Quinhentos -, devem igualmente ter-se familiarizado com as línguas dos negros.
E) Apesar do empenho dos portugueses, a cultura africana teve penetração entre alguns senhores e entre alguns clérigos. Cada um, é bem verdade, tinha objetivos específicos para tanto.
(Adaptado de: VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: MELLO e SOUZA. História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. V1. P.341-342.)
Resposta:
A) Observe o advérbio totalmente. Além disso, o texto usa o verbo evitar, a afirmação utiliza impedir. Eles são semanticamente bem distintos. Logo, a afirmação exagera, extrapola o texto. Cuidado com os advérbios.
B) A afirmativa b diz apenas a multiplicidade cultural dos negros. No texto, foram a multiplicidade e as hostilidades recíprocas. Portanto, a afirmativa b reduz a verdade do texto.
C) Na afirmativa, há a expressão a única forma, e o texto usa entre eles. Novamente, temos uma redução, uma diminuição da verdade textual.
D) O texto não explica a falta de empenho da Inquisição, dessa maneira a afirmação não está no texto. Trata-se de um acréscimo à realidade textual.
E) Resposta Correta.
Questão 2
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação correta de acordo com o texto.
A) Sendo a cultura negra um mal necessário para a manutenção dos escravos, sua eliminação foi um erro das autoridades coloniais portuguesas.
B) Os religiosos eram autoritários, obrigando os escravos negros a se converterem ao catolicismo europeu e a abandonarem sua religião de origem.
C) As autoridades portuguesas conduziam a política escravagista de modo que africanos de uma mesma origem não permanecessem juntos.
D) As línguas africanas foram eliminadas no Brasil colonial, tendo os escravos preservado apenas alguns traços culturais, como sua religião.
E) A identidade cultural africana, representada pelos batuques e calundus, causava danos às pessoas de origem européia.
Resposta:
A) O texto não classifica como erro das autoridades coloniais. Essa é uma inferência que o leitor poderá fazer por sua conta e risco.
B) O autoritarismo era dos proprietários de escravos e das autoridades. Busca-se aqui confundir o aluno dizendo que era o autoritarismo dos religiosos. Há uma troca, uma inversão das afirmações do texto.
C) Resposta Correta: Essa afirmação está no texto.
D) A afirmação contradiz o que está no texto. As línguas africanas foram, inclusive, aprendidas por alguns clérigos.
E) A afirmação exagera a verdade textual. O autor não chega a tanto. Se o vestibulando chegar a essa conclusão é por sua conta e risco.
Questão 03
Marque a alternativa correta, segundo o texto
O avanço do conhecimento é normalmente concebido como um processo linear, inexorável, em que as descobertas são aclamadas tão logo venham à luz, e no qual as novas teorias se impõem com base na evidência racional. Afastados os entraves da religião desde o século 17, o conhecimento vem florescendo de maneira livre, contínua.
a) O avanço do conhecimento sempre será por um processo linear, do contrário não será avanço.
Um pequeno livro agora publicado no Brasil mostra que nem sempre é assim. Escrito na juventude (1924) pelo romancista francês Louis-Ferdinand Céline, A Vida e a Obra de Semmelweis relata aquele que é um dos episódios mais lúgubres no crônica da estupidez humana e talvez a pior mancha na história da medicina.
b) O episódio de Semmelweis é indiscutivelmente a pior mancha na história da medicina.
c) O livro de Céline prova que nem sempre a racionalidade preponderava no cientificismo.
Ignác Semmelweis foi o descobridor da assepsia. Médico húngaro trabalhando num hospital de Viena, constatou que a mortalidade entre as parturientes, então um verdadeiro flagelo, era diferente nas duas alas da maternidade. Numa delas, os partos eram realizados por estudantes; na outra, por parteiras.
Não se conhecia a ação dos microorganismos, e a febre puerperal era atribuída às causas mais estapafúrdias. Em 1846, um colega de Semmelweis se cortou enquanto dissecava um cadáver, contraiu uma infecção e morreu. Semmelweis imaginou que o contágio estivesse associado à manipulação de tecidos nas aulas de anatomia.
Mandou instalar pias na ala dos estudantes e tornou obrigatório lavar as mãos com cloreto de cal. No mês seguinte, a mortalidade entre as mulheres caiu para 0,2%! Mais incrível é o que aconteceu em seguida. Os dados de Semmelweis foram desmentidos, ele foi exonerado, e as pias - atribuídas à superstição -, arrancadas.
d) A ala dos estudantes apresentava menores problemas de contágio.
Nos dez anos seguintes, Semmelweis tentou alertar os médicos em toda a Europa, sem sucesso. A Academia de Paris rejeitou seu método em 1858. Semmelweis enlouqueceu e foi internado. Em 1865, invadiu uma sala de dissecação, feriu-se com o bisturi e morreu infeccionado. Pouco depois, Pasteur provou que ele estava certo.
e) A rejeição aos métodos de Semmelweis ocorreu em função da inveja comum ao meio.
Para o leitor da nossa época, o interessante é que Semmelweis foi vítima de um obscurantismo científico. Como nota o tradutor italiano no prefácio agregado à edição brasileira, qualquer xamã de alguma cultura dita primitiva isolaria cadáveres e úteros por meio de rituais de purificação. No científico século 19, isso parecia crendice.
(Adaptado de: FRIAS FILHO, Otávio. Ciência e superstição. Folha de S. Paulo, São Paulo 30 abril de 1998.)
Vocabulário
Inexorável - inabalável - inflexível
Lúgubre - triste - sombrio - sinistro
Estapafúrdia - extravagante - excêntrico - esdrúxulo -
Obscurantismo - oposição ao conhecimento - política de fazer algo para impedir o esclarecimento das massas
Resposta:
Atente para este texto: trata-se de um artigo jornalístico. Observe como ele atende às características assinaladas na tipologia textual do jornalismo.
A) Observe que o texto usa o advérbio normalmente, mas a afirmação emprega sempre, mudando a verdade do texto.
B) Novamente, se compararmos com o texto, veremos que o autor afirma que o episódio talvez seja a pior mancha da história. Na afirmação, foi usado o advérbio indiscutivelmente acrescido de a pior mancha. Trata-se de um exagero, um acréscimo à realidade do texto.
C) Resposta Correta: O texto afirma que nem sempre o avanço do conhecimento é um processo linear.
D) A ala dos estudantes apresentava maiores problemas de contágio, pois as pias foram instaladas lá, justamente para lavar as mãos dos estudantes que trabalhavam na dissecação de cadáveres.
E) A inveja não é abordada pelo texto, portanto trata-se de uma exterioridade. O vestibulando pode achar verdadeiro, mas a conclusão será pessoal
Instruções para as próximas questões: As questões 4 e 5 devem merecer atenção. Estamos diante de questões de inferências. As alternativas corretas não estão propriamente no texto, mas poderemos chegar facilmente a elas, ou seja, o autor nos autoriza a concluir por elas.
Questão 04
O avanço do conhecimento é normalmente concebido como um processo linear, inexorável, em que as descobertas são aclamadas tão logo venham à luz, e no qual as novas teorias se impõem com base na evidência racional. Afastados os entraves da religião desde o século 17, o conhecimento vem florescendo de maneira livre, contínua.
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
(A) Em relação aos povos primitivos, a Europa do século passado praticava uma medicina atrasada.
(B) A comunidade científica sempre deixa de reconhecer o valor de uma descoberta.
(C) A higiene das mãos com cloreto de cal reduziu moderadamente a incidência de febre puerperal.
(D) Semmelweis feriu-se com o bisturi infectado porque queria provar a importância de sua descoberta.
(E) Ignorar a redução nas estatísticas obituárias resultante da introdução da assepsia foi uma grande estupidez.
Resposta:
A) O autor não classifica de atrasada a medicina européia da época.
B) Novamente o advérbio colocado para trair a atenção do aluno: sempre. Trata-se de um acréscimo, de um exagero.
C) Não foi moderadamente. De novo o advérbio. Veja como as armadilhas são sempre as mesmas. Se você as conhecer, ficará bem mais fácil chegar à resposta correta.
D) O texto simplesmente diz que ele se feriu. Não dá as causas.
E) Resposta Correta: Foi de fato uma estupidez. Essa é uma conclusão possível do texto. Observe que o autor declara: "Mais incrível é o que aconteceu em seguida".
Questão 05
O avanço do conhecimento é normalmente concebido como um processo linear, inexorável, em que as descobertas são aclamadas tão logo venham à luz, e no qual as novas teorias se impõem com base na evidência racional. Afastados os entraves da religião desde o século 17, o conhecimento vem florescendo de maneira livre, contínua.
A partir da leitura do texto, é possível concluir que
(A) o livro A Vida e a Obra de Semmelweis recebeu recentemente uma cuidadosa tradução para o italiano.
(B) a teoria de Semmelweis foi rejeitada porque propunha a existência de microorganismos, que não podia ser provada cientificamente.
(C) a nacionalidade húngara do médico pode ter sido um empecilho para sua aceitação na Europa do século passado.
(D) Semmelweis foi execrado pelos seus pares porque transformou a assepsia numa obsessão.
(E) Semmelweis enlouqueceu em conseqüência da rejeição de sua descoberta.
Resposta:
A) O livro foi recentemente publicado no Brasil.
B) Os microorganismos eram desconhecidos à época. Essa alternativa é perigosa, pode confundir o aluno.
C) Não há referência sobre essa afirmação. Os motivos, como já vimos, foram outros.
D) Semmelweis foi execrado por ter sido desmentido e por suas descobertas serem atribuídas à superstição.
E) Resposta Correta: Pode-se, tranqüilamente chegar a esse conclusão.
Questão 06
Supondo que o leitor não saiba o significado da palavra xamã, o processo mais eficiente para buscar no próprio texto uma indicação que elucide a dúvida consistirá em
(A) considerar que a palavra encontra sua referência na cultura italiana, já que foi empregada pelo tradutor da obra para o italiano.
(B) Observar o contexto sintático em que ela ocorre: depois de pronome indefinido e antes de preposição.
(C) Relacionar o seu significado às palavras leitor e prefácio.
(D) Relacionar o seu significado às expressões cultura dita primitiva e rituais de purificação.
(E) relacionar a palavra a outras que tenham a mesma terminação, como iansã, romã e anã.
Resposta: Todas as provas de vestibular no Estado trazem questões de vocabulário. Esta é bem característica da UFRGS. Empiricamente, você, candidato, quando não sabe o significado de uma palavra, busca o contexto. Cuidado! Não é o contexto sintático. Saber se uma palavra exerce a função de sujeito ou de objeto não define o seu valor semântico. Não confunda semântica com sintaxe. Xamã está no campo de ação de palavras dessa cultura primitiva. A resposta correta, portanto, é D. Atente para a alternativa E: dá a nítida impressão de bom humor. A banca também se diverte. O que anã e romã tem em comum com xamã? Gozação.
As questões 07, 08 e 09 estão baseadas no seguinte texto:
01 Lá pela metade do século 21, já não
02 haverá superpopulação humana, como
03 hoje. Os governos de todo o mundo -
04 presumivelmente, todos democráticos -
05 poderão incentivar as pessoas à reprodu-
06 ção. E será melhor que o façam com as
07 melhores pessoas. A eugenia humana -
08 isto é, a escolha dos melhores exemplares
09 para a reprodução, de modo a aprimorar a
10 média da espécie, como já se fez com ca-
11 valos - encontrará o período ideal para
12 sair da prancheta dos cientistas para a vi-
13 da real. Pessoas selecionadas por suas
14 características genéticas serão emprega-
15 das do estado. O funcionalismo público te-
16 rá uma nova categoria: a dos reprodutores.
17 Este exercício de futurologia foi apresen-
18 tado seriamente pelo professor do Institu-
19 to de Biociências da USP Osvaldo Frota-
20 Pessoa, em palestra no colóquio Brasil-Ale-
21 manha - Ética e Genética, quarta-feira à
22 noite. [...] Nas conferências de segunda e
23 terça, a eugenia foi citada como um perigo
24 das novas tecnologias, uma idéia que não
25 é cientificamente - e muito menos etica-
26 mente - defensável.
(TEIXEIRA, Jerônimo. Brasileiro apresenta a visão do horror. Zero Hora, 6.10.95, p. 5, 2º Caderno)
Questão 07
Considere as seguintes afirmações sobre a posição do autor com relação ao assunto de que trata o texto.
I. O autor do texto é favorável à eugenia como solução para a futura queda no crescimento demográfico, como indica o primeiro parágrafo.
II. O autor trata as idéias do professor Osvaldo Frota-Pessoa com certa ironia, como demonstra o uso da palavra seriamente na linha 18.
III. Ao relatar posições contraditórias por parte dos cientistas com relação à eugenia humana, o autor revela que esta é uma concepção controversa.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Resposta: Os últimos vestibulares da UFRGS solicitam do aluno este tipo de informação: saber de quem é a opinião. Muitas vezes, como é este o caso, o autor apenas expressa o ponto de vista de outra pessoa. A resposta correta é d.
Questão 08
Assinale a alternativa que está de acordo com o texto.
(A) Segundo lemos na primeira frase do texto, vivemos num mundo em que o número de pessoas é considerado excessivo.
(B) Como se conclui da leitura do primeiro parágrafo, a escolha dos melhores seres humanos para a reprodução, através da eugenia, causará uma queda na população mundial.
(C) A partir da leitura do segundo parágrafo do texto, concluímos que a especialidade do professor Frota-Pessoa é a futurologia.
(D) De acordo com o significado global do último parágrafo, o maior perigo das novas tecnologias é a ética.
(E) A eugenia humana, ao tornar os reprodutores candidatos a funcionários públicos, constituirá uma oportunidade de trabalho apenas para homens.
Resposta:
A) Resposta Correta: Hoje existe superpopulação.
B) A causa da queda da população não foi revelada no texto.
C) Esta conclusão é falsa. O tal professor fez apenas um exercício de futurologia. Novamente a banca tenta iludir e confundir o vestibulando. Cuidado!
D) Aqui temos uma troca: o maior perigo das novas tecnologias não é a ética, mas sim a eugenia.
E) Em absoluto o texto afirma que são os homens: aborda as pessoas em geral. Além disso, também não faz afirmações sobre o mercado de trabalho.
Questão 09
Considere as seguintes afirmações sobre a eugenia humana:
I. O uso restritivo da palavra humana (linha 07), no texto, indica que a palavra eugenia (linha 07) não se refere apenas à reprodução humana, mas à reprodução de qualquer espécie.
II. Pelos princípios expostos no texto, o vigor físico e a inteligência serão os critérios de eugenia a partir dos quais será feita a seleção dos melhores exemplares.
III. Conforme o texto, a eugenia humana já existe na forma de projeto científico.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III
Resposta: O uso restritivo de humana diz exatamente isto: humana. Logo, não se estende a outras espécies. Resposta Correta: D
As questões 10 e 11 estão baseadas no seguinte texto:
O peso original volta depois das dietas
01 O corpo humano, mesmo submetido
02 ao sacrifício de uma dieta alimentar
03 rígida, tem tendência a voltar ao peso
04 inicial determinado por um equilíbrio
05 interno, segundo recente estudo reali-
06 zado por cientistas norte-americanos.
07 Depois do aumento de alguns quilos
08 supérfluos, o metabolismo buscará
09 eliminar o peso excessivo.
10 O corpo dispõe de um equilíbrio que
11 tenta manter seu peso em um nível
12 constante, que varia em função de
13 cada indivíduo. O estudo sugere que
14 conservar o peso do corpo é um fenô-
15 meno biológico, não apenas uma ati-
16 vidade voluntária. O corpo ajusta seu
17 metabolismo em resposta a aumentos
18 ou perdas de peso. Dessa forma,
19 depois de cada dieta restrita, o metabo-
20 lismo queimará menos calorias do que
21 antes. Uma pessoa que perdeu recente-
22 mente pouco peso vai consumir menos
23 calorias que uma pessoa do mesmo
24 peso que sempre foi magra. A pesquisa
25 conclui que emagrecer não é impossí-
26 vel, mas muito difícil e requer o consu-
27 mo do número exato de calorias quei-
28 madas. Ou seja, uma alimentação mo-
29 derada e uma atividade física estável a
30 longo prazo.
(Zero Hora, encarte VIDA, 06/05/1995)
Questão 10
Segundo o texto, é correto afirmar:
A) Uma dieta alimentar rígida determina o equilíbrio interno do peso corpóreo.
B) O equilíbrio interno é um fenômeno biológico.
C) Conservar o peso não depende somente da vontade individual.
D) O ajuste de peso significa queima de calorias.
E) O número exato de calorias queimadas vincula-se a uma dieta.
Resposta: Antes de mais nada, observe que o texto é um editorial de um caderno de Zero Hora. Portanto, não há um autor em especial declarado.
A) O texto busca exatamente mostrar o contrário.
B) Conservar o peso é um fenômeno biológico. Temos, de novo, uma inversão com o objetivo de confundir o aluno.
C) Resposta Correta: Existem outros fatores.
D) Essa afirmação não está no texto.
E) O número exato de calorias queimadas depende de outros fatores.
Questão 11
Das opções abaixo, todas podem substituir, sem prejuízo ao texto, a palavra rígida (l. 03), menos
A) rigorosa
B) austera
C) severa
D) íntegra
E) séria
Resposta: Esse tipo de questão é muito comum: ele propõe a substituição de palavras. Em alguns vestibulares, em vez de uma, aparecem três palavras, tornando o exercício mais trabalhoso. A palavra rígida só não pode ser substituída por íntegra, que vem de integridade, honestidade.
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