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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Pronome Relativo - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Entenda as várias maneiras do uso do pronome relativo ‘onde’

Li num bom jornal: “A energia elétrica é o setor da economia onde…”

Leitor quer saber a minha opinião a respeito do uso do pronome relativo “onde”.

Embora alguns estudiosos do nosso idioma já aceitem, não me agrada o uso do pronome “onde” em situações em que o termo substituído não expresse claramente a ideia de lugar.

Frases do tipo “…é a ideia onde o autor se baseou…” e “…ocorreu em maio onde o ministro declarou…” são, na minha opinião, inaceitáveis. No primeiro exemplo, o pronome “onde” está substituindo a palavra “ideia”, que não expressa ideia de lugar. Sugiro usar “…é a ideia em que (ou na qual) o autor se baseou”. No segundo caso, “onde” substitui “maio”, que expressa “tempo”, e não lugar. O correto seria dizer que “ocorreu em maio quando o ministro declarou…”

Se houver a ideia clara de lugar, o pronome “onde” é bem-vindo. No correto verso de Djavan “não sei as esquinas por que passei”, também seria possível dizer “as esquinas por onde (ou pelas quais) passei”.



VOCÊ SABE…

…qual é a origem da palavra manjedoura?

Segundo o mestre Deonísio da Silva, manjedoura deve vir do italiano mangiatoia, cocho onde se põe comida para os animais. Pode ter derivado de manjar (=comer), que tem formas semelhantes no francês manger e no italiano mangiare.

No latim, que deu origem ao português, ao francês e ao italiano, há o verbo manducare, que significa mastigar.

A manjedoura, por ter servido de berço ao Menino Jesus, tornou-se um símbolo cristão.

Manjedoura, portanto, é o lugar (=douro) onde os animais comem (=manjar).

É importante também observarmos o sufixo “-douro”, que aparece em palavras como ancoradouro (=lugar onde o navio ancora, põe a âncora para atracar), babadouro (=tipo de protetor onde a criança baba) e bebedouro (=onde se bebe água).

Com muita frequência ouvimos “bebedor”, em vez de bebedouro. Ora, bebedor é aquele que bebe, e não o lugar.

Por fim, é interessante lembrar que o sufixo “-douro” é variante de “-doiro”. Isso significa que as formas ancoradoiro e bebedoiro também existem.  E para o babadouro, o dicionário Aurélio também registra as formas babadoiro e babador. Se você não gostou de nenhuma, pode ainda usar o sinônimo babeiro.



DESAFIO

Que significa circadiano?

a)    o que circunda o dia;

b)    o contrário de meridiano;

c)    o mesmo que cosmopolita.



Resposta:

Letra (a) = circa (= circo, circular, em torno de, em volta de) + diano (=relativo ao dia). Vem do latim circa diem (=em torno do dia).



DÚVIDAS DO LEITOR

1ª) “Seria correto dizer ‘raios solar’, uma vez que o sol é apenas um? A dúvida foi levantada durante um exame.”

A palavra sol vive criando dúvidas quanto à formação do plural. O fato de haver um único sol não impede o seu plural. Quando falamos do sol do amanhecer e do sol do meio-dia, estamos falando de dois o quê? É lógico que são dois sóis diferentes. Ninguém diria “dois sol” diferentes. Outro exemplo é o uso metonímico de sol por dia: “Estão faltando apenas dois sóis para chegarmos”.

Portanto, estão corretíssimos os plurais de girassol e guarda-sol: girassóis e guarda-sóis.

Quanto ao pôr do sol, o caso é diferente. Nesse caso, quando há preposição entre os dois elementos da palavra composta, a regra manda pôr apenas o primeiro elemento no plural: pores do sol.

Com respeito aos “raios solares”, não há o que discutir. Solar, como todo adjetivo, deve concordar com o substantivo a que se junta para qualificá-lo. Como bem argumentou o nosso leitor, se a justificativa do “único sol” valesse, teríamos que dizer “bandeiras brasileira”, pois só há um Brasil.

2ª) “Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM ?”

Embora alguns gramáticos considerem a concordância facultativa, nós preferimos usar o verbo no PLURAL, para concordar com a palavra que antecede o pronome relativo QUE: “Ele é um DOS que VIAJARAM.”

O raciocínio é o seguinte: “dentre aqueles que viajaram, ele é um”.

Outro motivo que nos leva a preferir o verbo no PLURAL é a concordância nominal. Todos diriam que “ele é um dos artistas mais BRILHANTES” (=”que mais BRILHAM”). Ninguém usaria o adjetivo BRILHANTE no singular.

Portanto, depois de UM DOS…QUE, fazemos a concordância com o verbo no PLURAL: “Ela foi uma DAS MULHERES que SOCORRERAM as vítimas da enchente.” “É aniversário de um DOS MAIORES HOSPITAIS do país que TRATAM o câncer infantil.” “Uma DAS LINHAS que TRAZEM energia de Itaipu foi desligada ontem.”

Artigos Definidos (o, a, os, as) - Gramática - Concordância - Pronomes QUE e QUEM - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Saiba quando devemos usar os artigos definidos

VOCÊ SABE…

…quando devemos usar os artigos definidos (o, a, os, as)?

No jornalismo em geral, em chamadas e títulos, a tendência é a supressão dos artigos, principalmente os definidos. Há casos, entretanto, que merecem uma atenção especial:

1a) A diferença principal é a intenção de especificar ou generalizar. Quando estou precisando “de trabalho”, significa trabalho em geral, qualquer um; quando estou precisando “do trabalho”, é um determinado trabalho, já citado anteriormente. Fazer referência “a leis” é fazer referência a leis em geral; fazer referência “às leis” é referir-se a determinadas leis.

2a) Antes de nomes de pessoas, é um caso facultativo: eu tanto posso fazer referência “a Paulo” quanto “ao Paulo”. Podemos dizer “casa de Paulo” ou “casa do Paulo”. As duas formas são corretas. Há regiões em que o mais frequente é usar o artigo definido; em outras, o mais usual é a omissão; e existem, ainda, regiões onde o uso do artigo definido caracteriza “intimidade”: casa de Paulo (=pessoa não íntima); casa do Paulo (=pessoa íntima, da família, muito amiga).

Antes de pessoas famosas, jamais usamos o artigo definido: “Marco Antônio foi o grande amor de Cleópatra”; “Romário poderia substituir Ronaldinho”.

No jornalismo, não usamos artigo antes de nenhum nome de pessoa, famosa ou não.

3a) Antes de pronomes possessivos, é outro caso facultativo. Podemos dizer “estamos a seu dispor” ou “ao seu dispor”; “esta é minha decisão” ou “a minha decisão”. O artigo definido só é obrigatório se o pronome possessivo estiver “sozinho” (substituindo um substantivo anteriormente citado): “Sua estratégia é melhor que a minha (estratégia)”.

4a) Antes das horas, o uso do artigo definido é obrigatório: “Trabalhamos das 8h às 20h”. A ausência do artigo altera o sentido. Se “trabalhamos de oito a vinte horas”, estamos dizendo quantas horas trabalhamos. Não estamos definindo a hora quando começamos a trabalhar nem a hora da saída.

5a) Em enumerações, a repetição é obrigatória antes de substantivos que exijam o artigo: “O Fluminense já venceu o Vasco, o Flamengo e o Botafogo”; “Pretende ir ao Paraguai, à Argentina, ao Uruguai e ao Chile.”



DICA DE CONCORDÂNCIA

Concordância Verbal com os pronomes QUE e QUEM:

1a) Quando o sujeito é o pronome relativo “QUE”, a concordância se faz obrigatoriamente com o antecedente (=palavra que está antes do pronome QUE): “Fui eu que falei”; “Foi ele que falou”; “Fomos nós que falamos”.

2a) Quando o sujeito é o pronome relativo “QUEM”, a concordância se faz normalmente na 3ª pessoa do singular: “Fui eu QUEM RESOLVEU o caso”; “Na verdade, são vocês QUEM DECIDIRÁ a data”.

Observe que, se invertermos a ordem, não haverá dúvida alguma: “QUEM RESOLVEU o caso fui eu”; “QUEM DECIDIRÁ a data são vocês”.

Embora pouco usual, não é considerado erro o fato de o verbo concordar com o pronome que antecede o QUEM: “Fomos nós quem RESOLVEMOS o caso.” “Não sou eu quem DESCREVO.”

Observação: quando não houver o pronome QUE, o verbo deverá obrigatoriamente concordar com o núcleo do sujeito (=pronome que está antes da preposição “de”): “UM dos casais já TINHA mais de vinte anos de vida em comum.” “NENHUM de nós dois PÔDE comparecer ao encontro.” “ALGUÉM da equipe RESOLVEU o problema.” “QUAL de vocês CHEGOU em primeiro?” “QUEM dentre nós ESTÁ DISPOSTO a sair?” “MUITOS de nós LERAM o livro.” Nesse caso poderíamos usar “Muitos de nós LEMOS o livro”, se quiséssemos subentender a ideia de “eu também”.



CRÍTICA DO LEITOR

“O minuto das chamadas para celulares custa R$ 0,29 de segunda à sábado entre 21h e 7h”.

A crítica é correta.

1o) Não há crase antes de sábado porque, além de ser uma palavra masculina, estamos falando de qualquer sábado (sem artigo = não definimos o sábado): “de segunda a sábado”;

2o) Estão faltando os artigos antes das horas porque estamos determinando as horas de início e de fim: “…entre as 21h e as 7h. Nesse caso, não ocorre a crase porque não temos a preposição “a”, e sim a preposição “entre”.



DESAFIO

Se as pessoas não foram discretas, é porque houve muitas…

a)    indiscreções;

b)    indiscrições;

c)    indescrições.



Resposta:

Letra (b) = in (=negação) + discrição (=qualidade de quem é discreto). Descrição é o “ato de descrever”.

Discreção não existe.

VIGIR ou VIGER? - Agilizar ou agilitar? - Quais cidades, estados brasileiros e países pedem artigo definido? - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Quais cidades, estados brasileiros e países pedem artigo definido?

VOCÊ SABE…

…quando devemos usar os artigos definidos antes dos nomes de cidades, estados brasileiros e países?

É importante lembrarmos que o uso do artigo definido pode mudar o sentido da frase. “Está preso em presídio estadual” é diferente de “Está preso no presídio estadual”. No primeiro caso, o estado tem dois ou mais presídios; no segundo, só há um presídio estadual.

Quanto aos nomes de cidades, estados e países, o problema é sério e merece muito cuidado.

1)    São poucas cidades que exigem artigo: o Rio de Janeiro, o

Porto, o Cairo… Os nomes da maioria das cidades são usados sem artigo: São Paulo, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, Paris, Roma, Lisboa…

Quando o nome da cidade é caracterizado por qualquer expressão, o artigo se torna obrigatório: a progressista Curitiba, a bela Porto Alegre, a antiga Roma, a Paris dos meus sonhos.

2)    Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco,

Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe são usados sem artigo. Os demais estados brasileiros exigem o artigo: o Amazonas, o Pará, o Ceará, a Paraíba, a Bahia… Com Alagoas e Minas Gerais, o artigo é facultativo: hoje usamos Alagoas e Minas Gerais (=sem artigo); mas também é correto usar “as Alagoas” e “as Minas Gerais”.

3) A maioria dos nomes de países exigem o artigo: a Argentina, o Brasil, a Alemanha, o Peru, a Espanha, o Uruguai… Mas há um bom número que rejeita o artigo: Israel, Portugal, Cuba, Angola, Moçambique, Cabo Verde…

Como podemos constatar, não há propriamente uma regra.





DÚVIDA DO LEITOR

Agilizar ou agilitar?

Escreve o nosso leitor: “Se num dicionário consta determinado vocábulo, isso não quer dizer que ele seja vernáculo. Especialmente se a formação da palavra está em desacordo com as normas do idioma (agilizar, por exemplo, é horrível; se não escrevemos facilizar, habilizar, devemos escrever agilitar)”.

Discordo. A incorporação de um neologismo se deve ao seu uso consagrado. E a formação de agilizar não está em desacordo com as normas do idioma. Se temos facilitar e habilitar (formadas com o sufixo “-itar”), também temos normalizar e utilizar (formadas com o sufixo “-izar”).

Quando ao uso, não tenho dúvida alguma de que a maioria fala agilizar. Nas poucas vezes em que ouvi alguém dizer “agilitar”, sempre percebi certo mal-estar e aquela desagradável situação: todos olhando para mim à espera de uma reação.





DÚVIDA DO LEITOR

VIGIR ou VIGER?

Observação de um leitor a respeito de um informe publicitário: “O controle de preços dos medicamentos é inconstitucional e é impossível de vigir porque vai contra o princípio da livre concorrência estabelecido pela Constituição.”

O nosso atento leitor tem razão. O verbo vigir não existe. O verbo é viger, sinônimo de “vigorar, ter validade”. Do verbo viger derivam-se o substantivo vigência e o adjetivo vigente: “Durante a vigência do contrato…”; “O prazo vigente é…” Portanto, o correto é dizer que “o controle de preços ainda está vigendo”.



DESAFIO

Qual é o significado de INANIÇÃO?

(a)  Absorção pelas vias respiratórias, de vapor de água puro ou misturado a substâncias medicamentosas;

(b)  Resultado da privação total ou parcial de alimento, fraqueza, extrema debilidade;

(c)  Que nunca se ouviu dizer, extraordinário, espantoso.



Resposta:

Letra (b) = inanição é o estado de inane, que significa “vazio, oco, que nada contém”. Falamos muito de inanição quando nos referimos àquelas pessoas que se encontram em estado de extrema fraqueza por falta total ou parcial de alimentação.

A absorção pelas vias respiratórias, de vapor de água puro ou misturado a substâncias medicamentosas é inalação.

E o que nunca se ouviu dizer é inaudito.



CRÍTICA DO LEITOR

“Todos os pedidos de rede de rádio e TV, de qualquer ministro, é atendido…” e “Não existe, no Brasil, instalações para internação específica de dependentes químicos”.

Observação de um leitor muito atento: “A minha impressão é que há dois grandes culpados pela maioria dos nossos erros de concordância: 1o) a distância entre o sujeito e o verbo; 2o) o sujeito posposto (=sujeito depois do verbo)”.

Concordo com nosso leitor. Ele está corretíssimo:

1o) a distância entre o sujeito e o verbo: “Todos os pedidos…são atendidos…”;

2o) o sujeito posposto (=sujeito depois do verbo): “Não existem…instalações…”

O que significa “estar ruim da bola”? - DICA DE CONCORDÂNCIA Com o verbo CUSTAR - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Você sabe o que significa ‘estar ruim da bola’?

VOCÊ SABE…

…o que significa “estar ruim da bola”?

Se você imaginou que eu estaria disposto a falar do atual estágio do futebol brasileiro, enganou-se. Não preciso “estar ruim da bola” para perceber que os nossos “craques”, no momento, andam meio “ruins de bola”. Mas…isso é um outro problema.

Não quero falar da bola bola, do esférico como dizem nossos irmãos portugueses. A “bola” a que estou fazendo referência é a cabeça. “Ruim da bola” é uma expressão de gíria muito antiga, que significa “estar ruim da cabeça, meio louco, meio tonto, meio bobo”.

E aqui é que está a surpresa. Segundo o jornalista, antropólogo e pesquisador J.B.Serra e Gurgel, autor do ótimo e seriíssimo Dicionário de Gíria, a palavra “bola” aparece registrada como gíria, ou seja, significando “cabeça”, em 1712.

Segundo o mesmo dicionário, existem várias expressões de gíria ainda conhecidas hoje que nasceram num passado muito distante. Vejamos alguns exemplos com sua data de registro:

1759 – cara de lua cheia, cara de fuinha, franzina, fedelho, festa de arromba, levar uma tunda, nariz de cera, ninharia, sonso, zorra…

1903 – cantar (conquistar com galanteios), canudo (diploma), enrabichar (apaixonar-se), galinha (mulher sapeca), gostosa (mulher bonita), lábia (astúcia), sapeca (namoradeira)…

1912 – dar um beiço (não pagar), bobo (relógio), mina (mulher), otário (bobo), patota (grupo), pisante (sapato), talagada (gole de aguardente), zoeira (barulho)…

1920 – bocó (palerma), cafundó (lugar muito retirado e deserto), jururu (triste), pamonha (pessoa apalermada), pancada (maluco), pileque (bebedeira), sabão (repreensão)…

1953 – abacaxi (coisa que só dá trabalho), birosca (tendinha ordinária), dar o maior bode (problemão), gaita (dinheiro), leão de chácara (vigia, segurança), tapado (estúpido), uva (mulher bonita), xaropada (coisa enfadonha)…

1959 – barbada (jogo fácil), calhambeque (carro velho), cambito (pernas finas), galinhagem (libertinagem), jujuba (bala de goma), parrudo (forte, gordo), xodó (predileção amorosa)…

O mais incrível é tomar consciência de que palavras que povoaram minha juventude não eram tão jovens como eu imaginava.

A verdade é que muitas palavras e expressões usadas hoje em dia como gíria “atual” foram criadas por nossos avós.



DICA DE CONCORDÂNCIA

Com o verbo CUSTAR:

É unipessoal. Só deveria ser usado na 3a. pessoa do singular.

“Francamente, CUSTEI a me acostumar e até achei o conjunto um pouco feio.” Embora usual, essa forma não segue rigorosamente a tradição gramatical. O correto seria “custou-me”, mas isso não é comum na fala dos brasileiros. Podemos substituir por outras formas: “Francamente, FOI DIFÍCIL eu me acostumar …”

Não esqueça que, quando o sujeito for “oracional”, o verbo deve concordar no singular: “CUSTOU-me perceber a verdade”; “CUSTA a nós aceitar essas condições”; “No Vestibular, BASTA conseguir três mil pontos”; “É NECESSÁRIO convocar onze craques para poder sonhar com a Copa”.



CRÍTICAS DOS LEITORES

“Cheques sem fundo” e “Vale à pena”.

O nosso sempre atento leitor tem razão mais uma vez.

O cheque é sem fundos. Fundo se refere à profundidade: “Era possível ver o fundo do mar”. Quando nos referimos a “bens, dinheiro, reservas”, aí estamos falando de fundos.

Alguma coisa só vale a pena se for sem o acento grave indicativo da crase. O verbo valer é transitivo direto, isto é, não exige preposição. Isso significa que a crase é impossível. Temos apenas o artigo definido “a”. Vale a pena da mesma forma que vale o sacrifício.



DESAFIO

Que significa trimensal?

a)    três vezes no mês;

b)   de três em três meses;

c)    de seis em seis meses.



Resposta:

Letra (a) = tri (=três) + mensal (=por mês).

De três em três meses é trimestral; e de seis em seis meses é semestral.



DÚVIDA DO LEITOR

“Posso construir uma frase colocando a conjunção no final, como em ‘…estava magoado, entretanto”? E se a linguagem fosse poética, poderia?”

É claro que pode. Nada contra.

A crítica que poderíamos fazer é contra certo vício que, volta e meia, ouço por aí. É a desgraça do “no entretanto”, que deve ser uma mistura de entretanto com no entanto. Mistura inaceitável, embora sejam conjunções adversativas. São sinônimas de “mas, porém, contudo, todavia”.

Origem da palavra Ceará - DICA DE CONCORDÂNCIA Com o verbo FAZER - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Você sabe qual é a origem da palavra Ceará?

Dicas de Gramática

VOCÊ SABE…

…qual é a origem da palavra Ceará?

Trata-se do desafio de um leitor insatisfeito com esta coluna. Sou acusado de discriminar o nordeste. Classifica a minha preferência pelo sul como “irritante”.

Para provar que sou contrário a qualquer tipo de discriminação, fui em busca da tal resposta. Após uma boa pesquisa, encontrei várias versões.

Reproduzo aquelas que estão resumidas no curioso Dicionário de Cearês de Marcus Gadelha:

1a) Segundo o historiador João Brígido, Ceará antigamente se escrevia Siará. A grafia atual vem da corruptela da palavra tupi Siri-Ará, que vem de Siri (=andar para trás) + Ará (=branco);

2a) O nosso grande escritor José de Alencar, conhecedor da língua tupi, afirma que Ceará se deriva de Siará, que significa “onde canta a Jandaia”;

3a) O grande Capistrano de Abreu afirma que Ceará se originou da aglutinação das palavras indígenas dzú (água) e erá (verde). Sua pronúncia em português seria Siará e seu significado “água ou rio verde”;

4a) O etimologista Mendes Júnior defende uma ideia diferente. Ceará refere-se à seca periódica e à moléstia ou febre causada pelo calor;

5a) A hipótese do escritor cearense Antônio Bezerra é que a palavra Ceará originou-se do nome do deserto africano Saara, devido às dunas das branquíssimas praias cearenses.

Quanto ao Dicionário do Cearês, temos belos e curiosos exemplos a ser observados: abirobado (maluco), abortado (sortudo), amarelo queimado (a cor laranja), bater a caçuleta (morrer), bife do ioão (ovo frito), bom que nem presta (coisa muito boa), cachorra da molesta (mulher sem vergonha), cadiquê? (por causa de, por quê?), chapéu de touro (chifre), desinfeliz (pobre coitado), frejo (confusão, briga), gasguita (mulher com a voz esganiçada), inhaca (mau cheiro), lalau (ladrão), lundu (mau humor), pomba lesa (lento, distraído), prego batido e ponta virada (assunto decidido), quartuda (mulher de traseiro grande), taioba (traseiro grande), teteia (mulher bonita), totó (jogo de futebol de mesa, pebolim), tribufu (mulher feia), trosoba (pênis), xibiu (vagina), vexado (apressado)…

É interessante observar que muitas palavras e expressões do tal “cearês” não são exemplos específicos da fala cearense. Ou vieram de fora e foram incorporadas ao linguajar cearense ou romperam barreiras e hoje são usadas e conhecidas no Brasil inteiro.



DICA DE CONCORDÂNCIA

Com o verbo FAZER

O verbo FAZER, referindo-se a “tempo decorrido”, é IMPESSOAL (=sem sujeito); por isso só deve ser usado no SINGULAR.

“FAZ dez anos que não nos vemos.”

“FAZ sete ou oito minutos que ele não toca na bola.”

É interessante lembrar que esta regra se aplica também às locuções verbais. Quando o verbo principal for o FAZER (= ”tempo decorrido”), o auxiliar deve ficar no SINGULAR:

“Já DEVE FAZER duas horas que ela saiu.”

“VAI FAZER cinco anos que não nos vemos.”



CRÍTICA DO LEITOR

“Nadal está agora há 24 partidas sem derrotas no saibro”.

A observação do leitor é correta. Confundimos preposição com verbo: “Nadal está agora com 24 partidas sem derrota no saibro”. Outra opção: “Há (faz) 24 partidas que Nadal não é derrotado no Saibro”. Mais simples: “São 24 partidas sem derrota no saibro”.



DESAFIO

Que significa dislexia?

a)    dificuldade na aprendizagem da leitura;

b)    dificuldade na emissão de palavras;

c)    dificuldade na digestão.



Resposta:

Letra A: Dislexia = dis (dificuldade) + lexia (palavra). É a dificuldade na aprendizagem da leitura caracterizada pela confusão e inversão de certas letras.

Dislalia é a dificuldade na emissão de palavras, e dispepsia é dificuldade na digestão.



DÚVIDAS DOS LEITORES

1ª) Leitor quer saber se a frase a seguir está correta: “A educação de um povo se avalia pela maneira com que se trata os animais.”

O nosso leitor tem razão: é como os animais são tratados. A partícula “se” é apassivadora e “os animais” é o sujeito da oração. É a tal voz passiva sintética. O verbo deveria estar no plural para concordar com o sujeito: “…com que se tratam os animais”.

2ª) PERSCRUTAR ou PRESCRUTAR?

“Prescrutar”, como ouvimos com alguma frequência, simplesmente não existe.

O certo é perscrutar, que significa “investigar minuciosamente, indagar com escrúpulo, perquirir”. Que ou quem perscruta é o perscrutador, e tudo que pode ser perscrutado é perscrutável.

Origem da expressão “à beça” - DICA DE CONCORDÂNCIA Com os verbos HAVER e EXISTIR - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Você sabe qual é a origem da expressão “à beça”?

VOCÊ SABE…

…o que é um aqueduto? E qual é a origem da expressão “à beça”?

1ª) Aqueduto vem de aquaeductu e significa “condutor de água”.

É formado por duas raízes de origem latina: aque + duto. Daí outras palavras bem conhecidas: aquático (relativo à água), aquário (reservatório de água); oleoduto (condutor de óleo), gasoduto (condutor de gás), viaduto (condutor de via)…

Nas antigas grandes cidades, os aquedutos serviam para o suprimento de água. Caracterizavam-se por sua expressão arquitetônica, marcada por arcadas superpostas. O Ápia, em Roma, é talvez o maior e o mais famoso aqueduto.

No Rio de Janeiro, temos os famosos “Arcos da Lapa”. Ali, tínhamos um aqueduto responsável pelo abastecimento de água. Hoje, como brinca um amigo meu, por conduzir o bondinho seria um verdadeiro “bondeduto”…

2ª) A expressão “à beça” significa “em grande quantidade”. É atribuída aos muitos argumentos usados pelo jurista sergipano Gumercindo Bessa ao enfrentar Rui Barbosa em famosa disputa pela independência do então território do Acre, que seria incorporado ao Estado do Amazonas.

Segundo o professor Deonísio da Silva, no seu De onde vêm as palavras II, o primeiro a usar tal expressão foi Rodrigues Alves, presidente do Brasil de 1902 a 1906. Admirado com a eloquência de um cidadão ao expor suas ideias, teria exclamado: “O senhor tem argumentos à Bessa!” Com o tempo, o sobrenome famoso perdeu a inicial maiúscula e os dois “esses” foram substituídos por um “cê-cedilha”.



DICA DE CONCORDÂNCIA

Com os verbos HAVER e EXISTIR:



1. O verbo HAVER, no sentido de “existir”, “ocorrer” ou “tempo decorrido”, é IMPESSOAL (=sem sujeito); por isso só deve ser usado no SINGULAR:

“Nesta competição não HÁ titulares ou reservas.” (=existem)

“Já HOUVE vários acidentes nesta curva.” (=ocorreram, aconteceram)

“HAVIA meses que não nos víamos.” (=tempo decorrido)

“Mas se não HOUVESSE projetos de lei para a Imprensa.”

“Desfez o mito da época em que não HAVIA condições técnicas.”

No presente do indicativo, ninguém erra. Ninguém diria: “Hão muitas pessoas na reunião”. A dúvida só existe quando o verbo está no pretérito ou no futuro: “No próximo concurso HAVERÁ ou HAVERÃO muitos candidatos?” O certo é “HAVERÁ muitos candidatos”. A regra não muda. É a mesma regra: esteja o verbo no presente, pretérito ou futuro. O erro mais grosseiro é o “famoso” houveram. É o caso da manchete de jornal: “Houveram vários crimes na Baixada”. Com certeza o primeiro crime foi contra a língua portuguesa.

Esta regra se aplica também às locuções verbais:

“DEVE HAVER muitas pessoas na reunião.” (=devem existir)

“PODERIA TER HAVIDO alguns incidentes.” (=poderiam ter ocorrido)

“PODE HAVER várias especulações.”

Nas locuções verbais, o verbo principal é sempre o último; os demais são verbos auxiliares. Se o verbo principal for impessoal (=sujeito inexistente), o verbo auxiliar fica no SINGULAR.

2. O verbo EXISTIR é pessoal (=com sujeito) e deve concordar com o seu sujeito:

“EXISTEM no Brasil dois tipos de caipiras.” (=sujeito plural)

“Na Polícia Federal não EXISTEM fotos dos traficantes.”

“Ainda PODEM EXISTIR dúvidas para serem resolvidas.”

Os verbos OCORRER e ACONTECER também são pessoais:

“Nesta rua, já ACONTECERAM muitos acidentes.” (=sujeito plural)

“Neste julgamento, PODEM OCORRER algumas injustiças.”

Observação: O verbo HAVER pode ser usado no plural, desde que não tenha o sentido “existir”, “ocorrer” ou “tempo decorrido”:

“Os professores HOUVERAM por bem adiar as provas.” (=decidiram)

“Os alunos se HOUVERAM bem na defesa de tese.” (=se apresentaram, “se deram”, “se saíram”)



CRÍTICA DO LEITOR

“Ascenção casual”.

Nossos leitores não perdoam. Foram muitas mensagens.

Alguns criticam o uso de “casual”. Segundo nossos leitores, é um anglicismo desnecessário (casual = informal). Para quem não percebeu, o título da matéria referia-se à ascensão do estilo informal no guarda-roupa profissional.

A crítica maior, entretanto, foi quanto à grafia de “ascenção”. Nesse caso, não há desculpa. É erro grosseiro.

Deixo aqui uma “dica”: os verbos terminados em “-ender” fazem os substantivos derivados em “-nsão”, com “s”. Observe alguns exemplos: tender – tensão; pretender – pretensão; compreender – compreensão; ascender – ascensão…



DESAFIO

Que é um apóstata?



a)    aquele que se dedica à propagação e defesa de uma doutrina;

b)    aquele que abandona uma religião ou um partido ou uma doutrina;

c)    sinal gráfico que indica a omissão de um ou mais fonemas.

Resposta: letra (b). O prefixo grego “apo-“ significa “afastamento, distância”. Apóstata é quem comete apostasia: ”abandono voluntário e público de uma religião, de um partido ou de uma doutrina”. Todo político que abandona seu partido de origem é um apóstata. Quem se dedica à propagação e defesa de uma doutrina é apóstolo. E o sinal que indica a omissão de um ou mais fonemas é o apóstrofo.

Dicas Gramática Parte II - CONCORDÂNCIA - Verbo ‘Ser’ - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Veja dicas de concordância com o verbo ‘ser’

Dicas, Gramática

DICA DE CONCORDÂNCIA

Com o verbo SER:

a) Quando não há sujeito (=referindo-se a tempo ou a espaço), deve concordar com a palavra seguinte: “É uma hora da tarde.” “SÃO duas horas da tarde.” “SÃO treze horas.” “DEVE SER meio-dia e meia.” “PODERIAM SER doze horas e trinta minutos.” “ERAM dez para as três.” “SÃO treze quilômetros até o centro da cidade.”

Quanto aos dias do mês, para evitar a velha polêmica “hoje é ou são oito de julho”, sugerimos: “Hoje É dia oito de julho.” “Amanhã SERÁ dia nove.”

b) Se o sujeito estiver no singular e o predicativo no plural (ou vice-versa), a concordância se faz de preferência no PLURAL: “Tudo SÃO hipóteses.” “O problema ERAM as chuvas.” “O resultado da pesquisa FORAM números assustadores.” “Esses dados SÃO parte de um relatório elaborado pela comissão especial do Senado.” “As cadernetas de poupança ERAM a melhor garantia para o futuro.” “Estas providências  FORAM a salvação da empresa.”

c) Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo deve concordar com o SUJEITO: “Beto ERA as esperanças do time.” “Fernando Pessoa É muitos poetas ao mesmo tempo.” “Eu SOU o responsável.” “Ele é forte, mas não É dois.”

d) Se o predicativo for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo concorda com o PREDICATIVO: “As esperanças do time ERA o Beto.” “O responsável SOU eu.” “Os escolhidos FOMOS nós.”

e) Se houver dois pronomes pessoais, o verbo SER concorda com o primeiro: “Eu não SOU você.” “Ele não É eu.” “Nós não SOMOS vocês.”

f) Nas frases interrogativas, o verbo SER concorda com o predicativo: “Quem SÃO os convocados?” “Quem FORAM os responsáveis?” “Que SÃO seis meses?”

g) Quando o sujeito for o pronome relativo que, o verbo fica no SINGULAR: “Eu moro neste edifício, que em breve SERÁ só escombros.” “Esta empresa, que hoje É só demissões, já foi líder de mercado.”

h) Se o predicativo for o pronome demonstrativo “o”, o verbo SER fica no SINGULAR: “Inimigos É o que não lhe falta.” “Eleições diretas É o que o povo queria.”

i) Antes de muito, pouco, bastante, demais…(=indicação de preço, quantidade, medida, porção ou equivalente), o verbo SER fica no SINGULAR: “Mil dólares É MUITO por este trabalho.” “Dez quilômetros É DEMAIS para mim.” “Duas lutas SERÁ POUCO para ele ganhar experiência.”



VOCÊ SABE…

…de onde vem a palavra adivinhação? E se é possível comemorar a morte de um amigo?

1ª) Adivinhação deriva de divino. Assim sendo, dizer que alguém

tem “o dom divino da adivinhação” é redundante, porque o dom da adivinhação já seria divino. E é, por isso, que o verbo adivinhar se escreve com “i”, e não “advinhar”. Há quem confunda o adivinhar e a adivinhação, que vêm de divino, com palavras que receberam o prefixo “ad-“ (=junto) e que se escrevem sem vogal após o prefixo: adjetivo, adjunto, advir, advindo, adquirir, adquisição, advento, adverbial, advertência, advogar, advogado…

2ª) Comemorar deriva de memória: co (=junto) + memorar (=trazer à memória). Significa “lembrar junto, trazer à memória”. Não seria errado, portanto, comemorar o aniversário da morte de alguém. Seria estranho, pois hoje em dia todos nós associamos o verbo comemorar a festejar. Até brincamos: em vez de comemorar, alguns preferem “bebemorar”, como se comemorar fosse derivado do verbo comer. Estranho seria “festejar” a morte do amigo, pois deriva de festa.



CRÍTICA DO LEITOR

“A exímia pista de dança, onde mal cabem quarenta pessoas…”

A crítica do leitor é perfeita. Confundimos exímia com exígua. Exímia é quem revela perfeição naquilo que faz: “Ela é uma exímia dançarina”. No caso da pista de dança, “ela é exígua”, ou seja, “diminuta, que tem pequena dimensão”.



DESAFIO

Que é um hebdomadário?

a)    um animal pré-histórico;

b)    um tipo de armário;

c)    um semanário.



Resposta: letra (c) = hebdomadário é uma publicação semanal. Hebdomático, que vem do grego hebdomatikós, significa “relativo ao número sete”. Hebdômada significa “semana” ou “espaço de sete dias, sete semanas ou sete anos”.



DÚVIDA DO LEITOR

Telessala ou tele-sala? Telessexo ou tele-sexo?

São neologismos.

Não há hífen em palavras formadas com o elemento grego “tele” (=distância): televisão, telespectador, teleducação, telecomunicação…

Quando a palavra seguinte começa por “s”, devemos escrever com dois “esses” para manter o som do “s”: telessala, telessexo, telessena…

O mesmo ocorre com os elementos “mini” e “mega”: minissaia, minissérie, megassena…

Dicas de Gramática - Qual é o plural de CORRIMÃO - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Qual é a origem de ‘Higienópolis’? E qual é o plural de ‘corrimão’?

Dicas, Gramática

VOCÊ SABE…

…o que é hígido? E qual é a origem de Higienópolis?

Hígido e Higienópolis têm a mesma origem: vêm de higiene. Hígido significa saudável, o que tem saúde.

Higienópolis significa a cidade (=polis) da higiene. Na cidade de São Paulo, há um bairro chamado Higienópolis cuja história é bem interessante.

Durante muito tempo, a principal porta de entrada da cidade era a Estação da Luz. Lá chegavam os trens que traziam as riquezas do interior. A região da Estação da Luz era rodeada de fábricas e grandes mansões.

Os imigrantes europeus chegavam de navio ao porto de Santos e de trem à Estação da Luz na cidade de São Paulo. Mas, com o passar do tempo, junto com a riqueza e os imigrantes, também chegou a peste. E aquela região rodeada de riqueza, aos poucos, ficou tomada pela doença. Que fizeram as famílias ricas de São Paulo? Abandonaram seus palacetes e mansões, e buscaram um lugar sem doença, saudável. Era o lugar da higiene: Higienópolis. Depois, Jardins, Morumbi…



DESAFIO

O que é uma endemia?

a)    doença que existe constantemente em determinado lugar ou região, atingindo pequeno ou grande número de pessoas;

b)    doença que surge rapidamente em determinada região, atingindo grande número de pessoas;

c)    epidemia generalizada, que se alastra por todas as regiões.



Resposta: letra (a) = endemia é uma doença que constantemente atinge uma determinada região; quando a doença surge rapidamente numa região e atinge um grande número de pessoas, temos uma epidemia; e quando a epidemia é generalizada, espalha-se por todas (=pan) as regiões, temos uma pandemia.



DÚVIDAS DOS LEITORES

1ª) Qual é o plural de CORRIMÃO?

O plural de mão é mãos. A palavra corrimão é composta: correr + mão. Em razão disso tudo, o plural é corrimãos. Entretanto, aqui no Brasil, consagrou-se o uso do plural corrimões. É uma forma já aceita por muitos estudiosos de nossa língua. Nada tenho contra.

Assim sendo, considero perfeitamente corretas as formas corrimãos e corrimões. Fato que não é novo, pois existem outras palavras também com duas formas para o plural: vulcãos e vulcões; verãos e verões; guardiães e guardiões…

2ª) Muitos leitores querem saber se a concordância verbal na frase “42% da floresta amazônica estarão destruídos em 2020” está correta.

A concordância com as percentagens parece ser uma dúvida sem fim. Quase toda semana, aparecem perguntas a esse respeito.

Vou repetir a minha opinião.

Quando a percentagem vem acompanhada de um especificador, temos duas possibilidades: ou o verbo concorda com o número percentual ou com o especificar: “50% da população mundial VIVE ou VIVEM na miséria”; “97% do eleitorado brasileiro já VOTOU ou VOTARAM”.

Na voz passiva e com os verbos de ligação, prefiro a concordância com o especificador: “30% das crianças ainda não FORAM VACINADAS”; “Somente 1% das mulheres FICARAM GRÁVIDAS”.

No caso da frase “42% da floresta amazônica estarão destruídos em 2020”, há uma segunda possibilidade: “42% da floresta amazônica estará destruída em 2020”. Não podemos, entretanto, dizer que a frase original esteja errada, pois o verbo no plural está concordando com 42%. Afinal, não é a floresta amazônica que estará destruída, e sim os 42% que estarão destruídos.



CRÍTICA DO LEITOR

“A voluntária disse que tinha pego piolho”.

Mensagem da leitora: “Sempre me recusei a falar ou escrever ‘pego’, mas a professora de Português de minha neta lhe disse que o certo é pego, e não pegado. Como estou ultrapassada!”

Minha querida leitora, não se incrimine. Não se julgue ultrapassada. E não vamos reduzir a polêmica “pego ou pegado” a uma simples questão de certo ou errado.

Fato 1 – Segundo a tradição da língua portuguesa, o particípio do verbo pegar é pegado. Portanto, dizer que “tinha pegado piolho” não está errado. Chato é o piolho.

Fato 2 – No português falado no Brasil, está consagrada em todos os níveis sociais e culturais a forma variante “pego”, da mesma forma que “pago, gasto, ganho”. Não vejo pecado algum em dizer que “ele foi pego em flagrante”. Dizer que “ele foi pegado em flagrante” pode estar correto, mas soa artificial.

Resumindo: a minha preferência é usar a forma “pegado” com o verbo auxiliar ter (ou haver) e a variante “pego” com o verbo ser: “Ele tinha (ou havia) pegado os documentos” e “Os documentos foram pegos por ele”.

DICAS DE CONCORDÂNCIA - Haja vista ou haja visto - CONFORME ou CONFORMES? - É PROIBIDO ou É PROIBIDA? - EXTRA ou EXTRAS? - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.


Haja vista ou haja visto? Veja dicas de concordância

DICAS DE CONCORDÂNCIA



1.  CONFORME ou CONFORMES?

a) Como conjunção conformativa (=segundo, como) é invariável:

“Fez tudo CONFORME os procedimentos estabelecidos.”

“CONFORME as leis vigentes, esta é a única solução.”

b) Como adjetivo, deve concordar com o substantivo a que se refere:

“Durante a auditoria, só encontraram produtos CONFORMES.”

“Ficaram CONFORMES (=CONFORMADOS) com a atual situação.”



2.  É PROIBIDO ou É PROIBIDA?

Só concorda com o substantivo se estiver determinado:

“É PROIBIDA a entrada de estranhos.”

“É PROIBIDO entrada de estranhos.”

“A bebida alcoólica não é PERMITIDA.”

“Bebida alcoólica não é PERMITIDO.”

“Demissão em massa não é BOM para o governo.”

“Sua demissão não foi BOA para o governo.”



3.  EXTRA ou EXTRAS?

EXTRA, como adjetivo (abreviação de EXTRAORDINÁRIO), deve concordar com o substantivo a que se refere:

“Trabalhou muitas horas EXTRAS.”

“Fez vários serviços EXTRAS.”



4. HAJA VISTA ou HAJA VISTO ?

HAJA VISTA é invariável.

“Ele foi demitido HAJA VISTA o problema surgido.”

“Ele foi dispensado HAJA VISTA os pontos atingidos.”

“Ele foi reprovado HAJA VISTA as notas tiradas.”



VOCÊ SABE…

1º) qual é a origem da palavra impostor? E de onde vem o verbo sabatinar?

Na origem, impostor era a autoridade que cobrava ou criava

impostos. Hoje em dia, impostor passou a significar “mentiroso, enganador”.

Essa mudança semântica se deve provavelmente à falta de caráter e de escrúpulos dos cobradores de impostos. Certamente foi a atitude dos impostores que transformou o sentido da palavra.

Algo semelhante deve ter ocorrido com a palavra tratante. Se o estudante é aquele que estuda, se o atendente é quem atende e se o dirigente dirige, o tratante só poderia ser aquele que trata. Possivelmente, o tratante de tanto tratar, mas não cumprir o trato, passou a ser o atual tratante, ou seja, aquele que não cumpre os tratos que faz.

Antigamente, no nosso ensino, eram comuns as provas feitas aos

sábados. Daí a origem das sabatinas. As provas mudaram de dia, mas o verbo sabatinar ficou. Hoje é sinônimo de arguir.

Em Brasília, sabatinar um político na sexta-feira é impossível. O problema não é o fato de a sabatina ter de ser feita só aos sábados. Hoje em dia, uma sabatina (=arguição, prova) pode ser feita em qualquer dia da semana. Difícil é encontrar algum político em Brasília na sexta-feira!!!



2º) O que o algodão é o filólogo têm em comum?

É o amor. O algodão é hidrófilo, ou seja, é “amigo” (filo) da água (hidro); e o filólogo é “quem ama” (filo) as palavras, a boa fala (logo).

Os elementos “filo” (=amigo, quem ama), “hidro” (=água) e “logo” (=palavra, fala) vêm do grego.

O algodão é hidrófilo (=amigo da água) porque é absorvente. É interessante lembrar que “filia” (=amor) se opõe a “fobia” (=aversão, medo).

Meu amigo e acadêmico Evanildo Bechara sempre lembra a origem da filologia, que o filólogo é, antes de tudo, um “amante da palavra”, um “amante da boa fala”.

É importante observar a presença do elemento grego “filo” em outras palavras: filosofia = amante (filo) do saber (sofia); filantropia = quem tem amor ao ser humano (antropo); necrofilia = quem ama o morto (necro); pedofilia = quem se sente atraído por criança (pedo)…

Quanto ao elemento “logo” (=palavra), é interessante registrar: logopedia = logo (palavra, fala) + pedia (criança); logomania = mania de palavras; monólogo = fala de um só (mono); diálogo = por meio (dia) da palavra; neologismo = nova (neo) palavra…

DESAFIOS

1º) O que é isonomia?

a)    duas pessoas de nomes iguais;

b)    doença cardiovascular;

c)    igualdade.



2º) Que significa deferir?

a)    aprovar;

b)    diferenciar;

c)    diferençar.



Respostas:

1º) letra (c) = “iso” significa “igual”. Certa vez, li num bom jornal: “A tese da isonomia fiscal busca a igualdade”. É uma típica frase que não diz nada, pois não há isonomia que não busque a igualdade. Para duas ou mais pessoas de nomes iguais, a palavra é homonímia.

2º) letra (a). No fim de um requerimento, é comum pedirmos deferimento, ou seja, que o requerimento seja aprovado. Certa vez, li num bom jornal: “Juiz deferiu favoravelmente o pedido do réu”. Temos aqui uma redundância, pois, se o juiz deferiu, só pode ter sido “favoravelmente”. Todo deferimento é um despacho favorável. E não devemos confundir deferir com diferir, que significa “fazer diferença” (=diferenciar, diferençar).

DICAS DE CONCORDÂNCIA - JUNTO ou JUNTOS? - MEIO ou MEIA? - BASTANTE ou BASTANTES? - Concordância, Dicas de Português, Dúvidas de Português.


DICAS DE CONCORDÂNCIA

1. JUNTO ou JUNTOS?

É um adjetivo e deve concordar com o substantivo a que se refere: “Os fortes sentimentos vêm JUNTOS”; “Em campo, Romário e Ronaldo JUNTOS”; “Uma vitória que a dupla de atacantes quer comemorar jogando JUNTA por muito tempo ainda”.

Observação 1: JUNTO A / JUNTO DE (=perto de)

São sinônimos e invariáveis: “Os dois chutes passaram JUNTO À trave”; “Os reservas estão JUNTO DA comissão técnica”; “Os hotéis ficam JUNTO AO viaduto”; “As casas estão JUNTO DA farmácia.”

Observação 2:

Devemos evitar o uso de JUNTO A com outro sentido que não seja de “perto de”: “Ele está preocupado com seu prestígio JUNTO À torcida” (É preferível: “…COM a torcida”) ; “O governo solicitou um empréstimo JUNTO AO Banco Mundial” (É preferível: “…NO Banco Mundial”).



2. MEIO ou MEIA?

Como numeral (=metade), deve concordar: “Tomou MEIO litro de vodca”; “Tomou MEIA garrafa de vodca”; “Tomou uma garrafa e MEIA”; “Leu um capítulo e MEIO”; “São duas e MEIA da tarde”; “É meio-dia e MEIA”.

Como advérbio (=mais ou menos), é invariável: “A aluna ficou MEIO nervosa”; “A diretoria está MEIO insatisfeita”; “Os clientes andam MEIO aborrecidos”.



3.  BASTANTE ou BASTANTES?

Como advérbio de intensidade é invariável: “Eles trabalharam BASTANTE para chegar até aqui.” “Eles ficaram BASTANTE cansados.” (Neste caso, é preferível usar “MUITO cansados”)

Como pronome indefinido (=antes de um substantivo), deverá concordar com o substantivo: “Está com BASTANTES problemas para resolver.” (É melhor: “MUITOS problemas) “O dia fica aberto, com BASTANTE sol em todas as regiões.” (Simplesmente “com sol” seria melhor)

Devemos evitar o uso de BASTANTE como pronome indefinido.

Como adjetivo (após um substantivo = suficiente), deve concordar com o substantivo: “Ele já tem provas BASTANTES para incriminar o réu.” (É melhor: “provas SUFICIENTES”) “As provas já são BASTANTES para incriminar o réu.” (É melhor: “As provas já são O BASTANTE para incriminar o réu.” / É preferível: “As provas já são SUFICIENTES para incriminar o réu.”)



VOCÊ SABE…

…qual é o numeral ordinal de 200?



Pois fiquem meus leitores sabendo que esta é a ducentésima vez que lhe digo isso. Os números, volta e meia, nos dão alguma dor de cabeça.

Primeiro foi aquele jornalista que disse: “Fulano de Tal, um septuagenário de 83 anos…” Ora, com mais de 80 anos já é um octogenário. Septuagenário ou setuagenário é quem tem de 70 a 79 anos de idade. Quanto ao número 80, é bom lembrar que o ordinal é octogésimo, e não “octagésimo” como frequentemente ouvimos.

Na última Bienal do Livro no Rio de Janeiro, mais uma vez tivemos a oportunidade de ouvir, durante a entrevista de um deputado, aquele velho chavão: “A bienal está tão maravilhosa que deveria realizar-se todo ano”. Acho ótima ideia, desde que troque o nome… Bienal todo ano não dá. Para quem não “caiu a ficha”, todo ano seria anual, já que bienal é de dois em dois anos.

E por falar em políticos, além da incompetência e da corrupção, muitos nos dão um péssimo exemplo de pobreza vocabular. Ninguém mais fala, afirma ou opina; todos “colocam”. A maioria, em vez de perguntar, prefere “colocar uma pergunta”; em vez de expor suas ideias, só quer “fazer colocações”.

Outro dia, durante uma mesa-redonda, um participante me pediu: “Professor, posso fazer uma colocação?” E eu, rapidamente, respondi: “Em mim, não!”

E voltando ao Senado, lembrei-me de um triste episódio da acareação, transmitida em rede nacional. Depois de tantas colocações, atingimos o clímax quando um ilustre parlamentar bradou: “Precisamos colocar isso nos anais”. E queria saber de quem? No fundo, todos nós sabemos…



DESAFIO

O que é pequenez?

a)    natural ou habitante de Pequim, quem nasce na capital chinesa;

b)    pequeno cão;

c)    mesquinhez, insignificância.



Resposta: letra (c): pequenez é a qualidade ou estado de pequeno. Pequenez, no sentido figurado, é mesquinhez, insignificância.

Quem nasce ou habita a cidade Pequim é pequinês.

E o cãozinho, apesar de pequeno, também é pequinês.



DÚVIDA DO LEITOR



 INRRETORNÁVEL???

“Professor, não encontramos nos dicionários a palavra inrretornável: Ele fez uma viagem inrretornável. Existe o termo?”

Meu caro leitor, a palavra “inrretornável” não existe. Na verdade, não existe nenhuma palavra com o grupo “nrr”. Temos “inr” ou “irr”: inremediável ou irremediável, inrestaurável ou irrestaurável, irretorquível, irreversível…

A nossa viagem sem retorno, por enquanto vai ficar sem retorno mesmo, pois a palavra “irretornável” ainda não está registrada no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Comida a quilo e entregas em domicílio. - Comprou o apartamento e a vista. Tudo à vista. - Vamos acabar com os excessos - Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português.




1.    Comida a quilo e entregas em domicílio

Hoje viraram moda os tais restaurantes self service, ou “serve-serve” como preferem alguns.
Há também os restaurantes que fazem “entregas à domicílio”. A crase seria um absurdo, já que domicílio é palavra masculina. Na verdade, nem a preposição “a” se justifica. Se o restaurante faz entregas em casa, no escritório, no quarto do hotel, por que fazer entregas “a domicílio”? O mais adequado, portanto, é fazer “entregas em domicílio”.
Quanto à desgraça da “comida à kilo”, é bom que você saiba que oficialmente a letra “k”, na língua portuguesa, só deve ser usada em palavras derivadas de nomes estrangeiros: darwinismo (de Darwin); em símbolos (K = potássio, Kr = criptônio); em abreviaturas: kg, km, kw (= minúsculas e sem plural).  Ao escrevermos por extenso, devemos substituir a letra “k” por “qu”: quilograma, quilômetro, quilowatt.
É importante lembrar também que grama (= unidade de massa) é substantivo masculino: um grama, duzentos gramas, trezentos gramas. Isso significa que é impossível haver crase. A comida deve, portanto, ser vendida a quilo (=com “qu” e sem o acento da crase).
É lógico que os restaurantes correrão um risco: o brasileiro gosta tanto de “comida à kilo” que poderá desconfiar da qualidade da verdadeira comida a quilo.
E outra dúvida é: DUZENTOS ou DUZENTAS gramas?
O certo é “duzentos gramas”.
“Duzentas gramas” só se fossem “duzentos pés de grama”, aquele vegetal que encontramos em muitos jardins.
A tal história de pedir “duzentas gramas de presunto” está errada. Pior ainda é “duzentas gramas de mortandela”. Sugiro até que você dê para algum “mendingo”!!!
A palavra GRAMA, para peso (=unidade de massa), é um substantivo masculino, por isso o correto é pedir “duzentos gramas de mortadela para o mendigo”.



2.    Comprou o apartamento e a vista. Tudo à vista.

O uso do acento da crase na locução “à vista” sempre gerou muita polêmica. Alguns autores, entre eles o mestre Napoleão Mendes de Almeida, afirmam não haver crase em “a vista”, pois seu correspondente masculino é “a prazo”. Isso comprovaria a ausência de artigo definido. A crase aa se comprova quando o correspondente masculino fica ao: “Referiu-se à carta” (=Referiu-se ao documento). O “a” de “a vista” seria apenas a preposição que introduz as locuções adverbiais.
Outros estudiosos, porém, como o mestre Adriano da Gama Kury, defendem o uso do acento grave indicativo da crase para todas as locuções (adverbiais, prepositivas e conjuncionais) de base feminina: à beça, à deriva, à direita, à distância, à francesa, à mão, à noite, à revelia, à toa, à vista, à vontade, às cegas, às claras, às vezes, à beira de, à base de, à custa de, à medida que, à proporção que…
O argumento usado pelo professor Adriano da Gama Kury é “o uso tradicional do acento pelos melhores escritores da nossa língua” e “a pronúncia aberta do a, em Portugal, nessas locuções, tal como qualquer a resultante de crase – diferente do timbre fechado do a pronome, artigo ou preposição”.
Eu também sou a favor do uso do acento grave em todas as locuções de base feminina. Além da simplificação, há o problema da clareza. “Comprar a vista” é bem diferente de “comprar à vista”. Sem o acento da crase, “a vista” poderia ser o objeto direto, ou seja, aquilo que se está comprando. “A vista” seria o panorama, ou pior, o olho. Mas aí já seria demais.
Para evitar confusões, quando quisermos indicar o modo como compramos ou vendemos alguma coisa, o melhor mesmo é escrevermos “à vista”, com acento grave.
Afinal, servir “à francesa” é bem diferente de “servir a francesa”. Ou não?

3.    Vamos acabar com os excessos

Ultimamente tenho observado um vício de linguagem muito curioso. São frases do tipo: “Aqui está o documento que ontem eu falei dele”; “São projetos que a direção acredita neles”; “São bons argumentos que concordamos com eles”.
Como se pode verificar, são exemplos extraídos do meio empresarial. É um vício típico da linguagem oral que também aparece na linguagem de profissionais de quem a sociedade espera a chamada língua padrão.
Para quem não entendeu a que vício estou me referindo, eu explico. Há pronomes sobrando. Em “Aqui está o documento que ontem eu falei dele”, o pronome relativo “que” e o pronome pessoal “(d)ele” substituem o mesmo substantivo (=documento). Bastaria usar o pronome relativo. O “dele” está sobrando. A causa é fácil de explicar: o brasileiro, em geral, tem muita dificuldade em respeitar a regência quando usa os pronomes relativos. Temos o hábito de usar simplesmente “que”, mesmo quando a regência do verbo ou do nome exija uma preposição. O uso de “falei dele” comprova que sabemos que a regência do verbo FALAR pede a preposição “de”.
Segundo a língua padrão, em vez de “Aqui está o documento que ontem eu falei”, deveríamos dizer “…o documento de que (ou do qual) eu falei”.
No segundo caso, o pronome “(n)eles” está sobrando. Se a direção acredita “em” projetos, “São projetos em que (ou nos quais) a direção acredita”.
E no terceiro exemplo, em vez de “São bons argumentos que concordamos com eles”, bastaria dizer “…argumentos com que (ou com os quais) concordamos”.

Neologismo - A riqueza dos neologismos - Dúvidas e Dicas de Português - Língua Portuguesa - Matéria Português



A riqueza dos neologismos

O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que rejeitam qualquer novidade e aqueles que “topam tudo”.
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o caráter evolutivo das línguas vivas.
O problema é o modismo, o exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo “i” (=negação) + sufixo “vel” (=possibilidade). Imexível = o que não se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível, invencível, indestrutível… Na prática, entretanto, temos um problema: devido à “fonte criadora”, a palavra imexível carrega consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR, ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de “elencar”, se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR… Para que “alavancar”, se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou LEVANTAR?
É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis, IMPACTAR significa “tornar impacto, introduzir em outra coisa de modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível”. Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo duvidoso: “Esta medida está impactando a nossa empresa”. Isso pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a ambiguidade seja a nossa real intenção.
Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar, sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a quem usa.


Neologismos e hibridismos

Não se assuste. Eu explico: já vimos que neologismos são “palavras novas”, que em geral não aparecem em nossos dicionários. Daí a tendência de muita gente afirmar que a palavra não existe.
Muita gente reclama quanto ao uso de palavras como PROPINODUTO, BIOTERRORISMO e SEQUESTRO-RELÂMPAGO, que, segundo nossos leitores, não existem porque não foram encontratadas em dicionário algum.
É importante que se explique que a existência de uma palavra não depende do registro de um dicionário. A palavra existe a partir do momento em que se faz necessária e os falantes passam a utilizá-la normalmente. Cabe, no caso, aos nossos dicionários fazer o devido registro em suas futuras edições.
A palavra nasce de acordo com a necessidade. Assim como toda criança ao nascer recebe um nome, os fatos novos também merecem “um nome novo”. A palavra BIOTERRORISMO só não aparecia em nossos dicionários porque não havia “terrorismo biológico”. É fato novo, em razão disso: tudo contra o bioterrorismo, mas nada contra a palavra BIOTERRORISMO.
Se inventaram um novo tipo de sequestro, por que não chamá-lo de sequestro-relâmpago? Há muito tempo que, no futebol, se usa “gol-relâmpago” e ninguém reclamou até hoje. Só quem toma o gol, é claro.
Quanto ao PROPINODUTO, achei muito criativo. Juntamos a propina com o DUTO, que vem do latim e significa “que conduz”. Daí o oleoduto, que “conduz óleo”, o gasoduto, que “conduz gás” e o viaduto, que “conduz a via”, e não o que algumas mentes maldosas poderiam imaginar.
Quanto ao fato de misturar elementos de línguas diferentes (propina = português + duto = latim; bio = grego + terrorismo = português), nada contra. Isso se chama hibridismo (= mistura de elementos de diferentes origens) e a nossa língua está cheia de exemplos consagrados: televisão (grego+português), sambódromo (português+grego), camelódromo (português+ grego), automóvel (grego+português), decímetro (latim+grego), burocracia (francês+grego), alcoólatra (árabe+grego)…


 A palavra existe ou não, eis a questão.

O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores e dos maiores dicionários do mundo. É bom lembrar que a edição lançada em 1999 apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído por uma nova edição. Recentemente, foi publicada uma nova edição pós-acordo ortográfico.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem que pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no velho Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está registrado nas novas edições de nossos principais dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor reclama: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.


Neologismo - A riqueza dos neologismos - Dúvidas e Dicas de Português - Língua Portuguesa - Matéria Português



A riqueza dos neologismos

O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que rejeitam qualquer novidade e aqueles que “topam tudo”.
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o caráter evolutivo das línguas vivas.
O problema é o modismo, o exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo “i” (=negação) + sufixo “vel” (=possibilidade). Imexível = o que não se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível, invencível, indestrutível… Na prática, entretanto, temos um problema: devido à “fonte criadora”, a palavra imexível carrega consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR, ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de “elencar”, se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR… Para que “alavancar”, se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou LEVANTAR?
É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis, IMPACTAR significa “tornar impacto, introduzir em outra coisa de modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível”. Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo duvidoso: “Esta medida está impactando a nossa empresa”. Isso pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a ambiguidade seja a nossa real intenção.
Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar, sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a quem usa.


Neologismos e hibridismos

Não se assuste. Eu explico: já vimos que neologismos são “palavras novas”, que em geral não aparecem em nossos dicionários. Daí a tendência de muita gente afirmar que a palavra não existe.
Muita gente reclama quanto ao uso de palavras como PROPINODUTO, BIOTERRORISMO e SEQUESTRO-RELÂMPAGO, que, segundo nossos leitores, não existem porque não foram encontratadas em dicionário algum.
É importante que se explique que a existência de uma palavra não depende do registro de um dicionário. A palavra existe a partir do momento em que se faz necessária e os falantes passam a utilizá-la normalmente. Cabe, no caso, aos nossos dicionários fazer o devido registro em suas futuras edições.
A palavra nasce de acordo com a necessidade. Assim como toda criança ao nascer recebe um nome, os fatos novos também merecem “um nome novo”. A palavra BIOTERRORISMO só não aparecia em nossos dicionários porque não havia “terrorismo biológico”. É fato novo, em razão disso: tudo contra o bioterrorismo, mas nada contra a palavra BIOTERRORISMO.
Se inventaram um novo tipo de sequestro, por que não chamá-lo de sequestro-relâmpago? Há muito tempo que, no futebol, se usa “gol-relâmpago” e ninguém reclamou até hoje. Só quem toma o gol, é claro.
Quanto ao PROPINODUTO, achei muito criativo. Juntamos a propina com o DUTO, que vem do latim e significa “que conduz”. Daí o oleoduto, que “conduz óleo”, o gasoduto, que “conduz gás” e o viaduto, que “conduz a via”, e não o que algumas mentes maldosas poderiam imaginar.
Quanto ao fato de misturar elementos de línguas diferentes (propina = português + duto = latim; bio = grego + terrorismo = português), nada contra. Isso se chama hibridismo (= mistura de elementos de diferentes origens) e a nossa língua está cheia de exemplos consagrados: televisão (grego+português), sambódromo (português+grego), camelódromo (português+ grego), automóvel (grego+português), decímetro (latim+grego), burocracia (francês+grego), alcoólatra (árabe+grego)…


 A palavra existe ou não, eis a questão.

O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores e dos maiores dicionários do mundo. É bom lembrar que a edição lançada em 1999 apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído por uma nova edição. Recentemente, foi publicada uma nova edição pós-acordo ortográfico.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem que pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no velho Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está registrado nas novas edições de nossos principais dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor reclama: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.

A “multagem” eletrônica - Concordância, Dicas de Português, Dúvidas de Português, Língua Portuguesa, Matéria Português, Ortografia, Português


A “multagem” eletrônica

Leitor, indignado com as multas indevidas que diz ter recebido, mostra-se ainda mais revoltado com a palavra “multagem”, que aparece em placas espalhadas por vias de algumas cidades brasileiras.
“Multagem” é um neologismo ainda sem registro em nossos principais dicionários, mas algo deve ser dito em defesa da palavra: ela foi criada em perfeito acordo com os nossos processos de formação de palavras.
Existem vários sufixos para designar “ato ou resultado da ação”: ato de agredir = agressão; ato de deter = detenção; ato de ascender = ascensão; ato de julgar = julgamento; ato de preferir = preferência; ato de lavar = lavagem.
Como podemos observar, há diferentes sufixos para a mesma função. E não há regra lógica que explique por que o ato de colocar é colocação e o de deslocar é deslocamento, por que o resultado da ação de casar é casamento e o de cassar é cassação.
Assim sendo, se o ato de contar é contagem, se o ato de pesar é pesagem, por que o ato de multar não pode ser multagem?
Se a palavra é boa ou ruim, se vai “pegar” ou não, só o tempo dirá.
O simples fato de a palavra não estar em nossos dicionários não significa que ela não exista. Veja o caso de bioterrorismo. Se você consultasse o dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras em 1999, não encontraria registro da palavra bioterrorismo. Isso não significava que ela não existia. Infelizmente o bioterrorismo existe independentemente de a palavra estar ou não registrada em nossos dicionários. A equipe do antigo dicionário Aurélio, atenta a esse fato novo, já havia registrado a palavra bioterrorismo.
Com o adjetivo “imexível”, neologismo criado em 1990 pelo então ministro Rogério Magri, ocorre o contrário: está registrado no dicionário Houaiss e no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, mas não aparecia no dicionário Aurélio.
Se você vai usar ou não, é um critério seu. É uma questão de estilo e de adequação da linguagem.
É assim que os neologismos nascem. Alguns sobrevivem, outros não. Quem dá vida às palavras somos nós, falantes da língua portuguesa.

Vírgula - Se beber, não use o ponto e vírgula - Uso da vírgula


 Se beber, não use o ponto e vírgula


Em frente ao Hospital Pinel, no Rio de Janeiro, há um painel luminoso da CET-Rio. Com certa frequência, lá encontrávamos a seguinte mensagem:
“Se dirigir; não beba
se beber; não dirija”
Certamente o hospital não tem culpa alguma. Louco ou bêbado estava quem escreveu a tal frase. Não pela mensagem em si, mas pela pontuação da frase. Provavelmente alguém disse para o autor: “Olha, tem um ponto e vírgula aí.” E o “letrado”, por garantia, tascou logo dois.
Ora, onde encontramos o ponto e vírgula bastaria a vírgula, pois se trata de uma oração subordinada adverbial condicional deslocada: “Se dirigir, não beba”. O uso do ponto e vírgula seria perfeito entre as duas ideias, apontando, assim, uma pausa maior que a vírgula:
“Se dirigir, não beba; se beber, não dirija.”
É para isso que serve o ponto e vírgula: para indicar uma pausa maior que a vírgula e não tão forte quanto o ponto-final.
Portanto, o autor da frase acaba de perder 3 pontos na sua carteira de habilitação, por uma infração média contra a gramática.
Para que serve o ponto e vírgula?
Fundamentalmente, o ponto e vírgula indica uma pausa maior que a vírgula.
Vejamos as situações em que o seu emprego é mais frequente:
1a) para separar os membros de um período longo, especialmente se um deles já estiver subdividido por vírgula:
“Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o ouvinte.”
“Nas sociedades anônimas ou limitadas existem problemas: nestas, porque a incidência de impostos é maior; naquelas, porque as responsabilidades são gerais.”
2a) para separar orações coordenadas adversativas (=porém, contudo, entretanto) e conclusivas (=portanto, logo, por conseguinte):
“Ele trabalha muito; não foi, porém, promovido.” (indica que a primeira pausa é maior, pois separa duas orações)
“Os empregados iriam todos; não havia necessidade, por conseguinte, de ficar alguém no pátio.”
3a) para separar os itens de uma explicação:
“A introdução dos computadores pode acarretar duas consequências: uma, de natureza econômica, é a redução de custos; a outra, de implicações sociais, é a demissão de funcionários.”
4a) para separar os itens de uma enumeração:
“Deveremos tratar, nesta reunião, dos seguintes assuntos:
a)    cursos a serem oferecidos, no próximo ano, a nossos empregados;
b)    objetivos a serem atingidos;
c)    metodologia de ensino e recursos audiovisuais;
d)    verba necessária.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Concordância e Ortografia - Dúvidas e Dicas de Português - Parte 6 - Língua Portuguesa - Matéria Português



Dúvida 

1. Serrar ou cerrar?

Se você se refere ao ato de cortar com serra ou serrote,
o verbo é serrar com “s”. Por outro lado, se o objetivo é fechar alguma coisa,
devemos cerrar com “c”.
Veja que perigo!
Comerciante deu ordem por escrito a seus empregados:
“Hoje quero todas as portas desta loja serradas exatamente às 20h”.
(serradas com “s”).
Foi atendido. No dia seguinte, ao voltar à loja, encontrou todas as portas serradas com “s”, ou seja, cortadas… Se ele queria as portas fechadas, deveria ser cerradas com “c”.
Outro perigo é a falta de visibilidade quando a neblina está muito forte. Quero saber se a cerração que ocorre com freqüência na serra é com “s” ou com “c”?
Se a neblina ou nevoeiro está muito forte, sem visibilidade, é porque há muita cerração com “c”. Não há relação alguma entre o fato de serra se escrever com “s” e a cerração, que vem de cerrar, no sentido de fechar, que se escreve com “c”.
Serração com “s” haveria, se muitas árvores estivessem sendo serradas, ou seja, serração com “s” é o ato de serrar, cortar.
Certa vez, li num bom jornal:
“Atleta serrou (com “s”) os punhos e vibrou intensamente”. Só se foi de dor!
É melhor, antes de vibrar, cerrar (com “c”, ou seja, fechou) os punhos.
E melhor mesmo é encerrar esse assunto.
Então não esqueça:
Serrar com “s” é cortar; cerrar com “c” é fechar.
Serração com “s” é o ato de “serrar com “s”, cortar”.
E a neblina, o nevoeiro forte é cerração com “c”.

2. Palavra de rei se discute

Rex, regis, do latim, deu origem em português ao nosso REI. Daí palavras derivadas como regente (príncipe regente), regência (tríplice regência), Regina (rainha, em latim)…
Em gramática, regência é a parte que estuda o uso das preposições. É ela que nos diz qual preposição o nome exige e, no caso dos verbos, se há preposição ou não. É a regência que nos diz se o verbo é transitivo direto ou indireto.
Como é “coisa de rei”, ninguém pergunta por que devemos “fazer referência a”, “ter necessidade de”, “ser ávido por”, “ser semelhante a”… Ninguém quer saber por que verbos como VER, COMPRAR e ENCONTRAR são transitivos diretos, e GOSTAR DE, ACREDITAR EM, ANSIAR POR e CONCORDAR COM são transitivos indiretos.
Ninguém discute a regência de verbos e de nomes em que o uso da preposição na linguagem cotidiana está de acordo com o que ensinam as gramáticas normativas.
A regência merece discussão quando há divergência entre o que diz a tradição gramatical e o uso do nosso dia a dia.
Existem vários verbos nesse caso. Vejamos dois exemplos:
1º) IMPLICAR, no sentido de “resultar, acarretar, ter como
consequência”, segundo a gramática tradicional (Evanildo Bechara, Antônio Houaiss…) é verbo transitivo direto: “Isto implica erros grosseiros”; “Esta decisão implicará pagamento antecipado”.
A realidade, porém, tem-nos mostrado a presença constante da preposição “em”: “implica em erros grosseiros”; “implicará em pagamento antecipado”.
Este é o nosso problema: de acordo a regência clássica, IMPLICAR
é transitivo direto; segundo os linguistas modernos, também podemos usar o verbo IMPLICAR como transitivo indireto. Você decide.
É importante lembrar que, em nossos concursos oficiais, devemos considerar IMPLICAR um verbo transitivo direto.
2º) VISAR é outro verbo que merece atenção. Com o sentido de
“dar visto, rubricar” ou de “mirar, apontar”, todos concordam que VISAR é verbo transitivo direto: “visar o cheque”; “visar todas as páginas da escritura”; “visar o alvo”; “visar o gol”.
A polêmica ocorre quando usamos o verbo VISAR com o sentido de “ter por fim ou objetivo”. Nesse caso, segundo a tradição (Evanildo Bechara, dicionário Aurélio…), VISAR é transitivo indireto: “visar ao bem-estar de todos”; entretanto, hoje em dia, muitos estudiosos, inclusive o dicionário Houaiss, já aceitam o verbo VISAR como transitivo direto ou indireto: “visar ao bem-estar” ou “visar o bem-estar de todos”.
Os verbos IMPLICAR e VISAR são apenas dois exemplos de que
podemos questionar a regência clássica, de como “se discute a palavra de rei”.
Não vejo nada errado nesta discussão. Crime, no meu modo de ver, é cobrar assuntos polêmicos em concursos públicos.




1.     Sito À ou NA Avenida Paulista
O uso das preposições sempre dá muita dor de cabeça.
Já sabemos que se entrega alguma coisa (=objeto direto) a alguém (=objeto indireto): “O rapaz entregou os documentos ao diretor”. Quando nos referimos ao lugar da entrega, devemos entregar “em algum lugar”. Assim sendo, as entregas devem ser feitas “em domicílio”, da mesma forma que faríamos as entregas “em casa, no lar, no escritório, no quarto do hotel, no apartamento 209”.
Com os verbos morar, residir, situar e com os adjetivos residente e domiciliado, também devemos usar a preposição “em”. Quem mora sempre mora “em algum lugar”; quem é residente e domiciliado é residente e domiciliado “em” algum lugar.
Em linguagem “cartorial”, é frequente lermos coisas do tipo: “Fulano de Tal, residente e domiciliado à Rua das Palmeiras”; “Dr.Beltrano de Tal, com escritório sito à Avenida Paulista…”
Se, em vez de rua ou avenida, tivéssemos um substantivo masculino, ninguém diria: “Fulano de Tal, residente e domiciliado “ao” Beco das Garrafas”; “Dr. Beltrano de Tal, com escritório sito “ao” Largo do Machado…”
Se o Fulano de Tal é residente e domiciliado “no” Beco das Garrafas e se o Dr. Beltrano de Tal tem escritório sito “no” Largo do Machado, por uma questão mínima de coerência, o primeiro deve ser residente e domiciliado “na” Rua das Palmeiras e o outro deve ter escritório sito “na” Avenida Paulista. E, para ficar melhor ainda, em vez do “burocrático” sito, use “situado na Avenida Paulista”. É correto e muito mais simples e claro.
Outro exemplo de “burocratês” é o tal de “à folhas 23 e 24”. Primeiro, o uso do acento indicativo da crase não se justifica, pois certamente não há artigo definido. No mínimo, deveria ser “às folhas 23 e 24”. Melhor seria “nas folhas 23 e 24”.
E, pior ainda, é “à folhas 23”. Nesse caso, não há defesa. Não seria mais simples dizer “na folha 23”?

2.    A preposição esquecida
Todos vocês, provavelmente, foram obrigados a decorar uma famosa lista: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre…
Se isso já faz muito tempo, eu refresco a sua memória: são as preposições.
É bom recordar, porque muita gente boa deve ter esquecido as coitadinhas.
Alguns confundem “com” e “contra”. Você sabe quando é que o Flamengo vai jogar com o Vasco? Nunca! Eternamente um jogará contra o outro. Num jogo de tênis, se o Gustavo Kuerten jogar com o Fernando Melligeni, é jogo de duplas; se o Guga jogar contra o Melligeni, é jogo de simples. Eles serão adversários.
Há quem confunda sob (embaixo) e sobre (por cima). Uma lágrima só correrá “sob a face” se for um “choro interno”. Certamente a lágrima correrá sobre a face.
Há, ainda, aqueles que simplesmente ignoram a preposição “a”. Temos uma propaganda em que a loja oferece para seus fregueses “cheques só para daqui 45 dias”. Frase sem preposição merece cheque sem fundos. Devemos dizer “daqui a 45 dias”. É o mesmo caso de “de hoje a uma semana”, “de janeiro a dezembro”. Portanto, o cheque deve ser para “daqui a 45 dias”.
Outro caso em que a preposição “a” está definitivamente esquecida é o famoso “lava jato”. Nesse caso, de duas, uma: ou “lava a jato” ou criamos um novo substantivo composto “lava-jato” (necessariamente com hífen).
E por fim o caso do “vivo”, que podemos observar no canto da telinha quando temos uma transmissão “ao vivo”. Ora, se a transmissão é sempre ao vivo (nenhum canal de televisão transmite “vivo”), de onde saiu a mania de usar somente “vivo”?
Alguns alegam problema de espaço na telinha. Não acredito. Para mim, deve ter sido mais uma “macaquice” nossa, mais uma imitação dos modelos americanos. Se eles usam simplesmente “live”, que fizemos nós? Trocamos o correto “ao vivo” pelo questionável “vivo”.
Pelo menos a Rede Globo, devidamente alertada, e depois de muito sofrimento, timidamente começa a mudar. Já tivemos a oportunidade de ver o “ao vivo” em algumas transmissões recentes.
Temendo pela extinção, é bom lançarmos uma nova campanha: “Salvem as preposições”.


3.    DELE ou DE ELE?
Não há dúvida alguma: eu cheguei antes dele, eu gosto dele e o livro é dele.
A polêmica surge quando “eu chego antes DELE ou DE ELE sair”. De acordo com a gramática normativa, a forma “dele” não pode ser sujeito da oração, porque não há “sujeito preposicionado”. Assim sendo, se houver após o “dele” um verbo no infinitivo, devemos separar a preposição do pronome na função do sujeito: “Eu cheguei antes DE ELE sair”.
Essa regra, entretanto, não é rígida. No Brasil, não há dúvida de que a forma mais usada é “cheguei antes dele sair”. É assim que a maioria dos brasileiros fala. O mestre Adriano da Gama Kury, entre outros estudiosos ilustres do nosso idioma, considera a forma preposicionada (=cheguei antes dele sair) uma variante linguística válida.
É o mesmo caso de “está na hora da onça beber água”. Diz o mestre Evanildo Bechara: “A lição dos bons autores nos manda aceitar ambas as construções, de a onça beber água e da onça beber água”.
Por outro lado, é importante observar que, em geral, os concursos públicos exigem a forma tradicional: “Cheguei antes de ele sair”; “Está na hora de a onça beber água”.
O mesmo se aplica à contração da preposição com o artigo: “O bando invadiu o Banco do Brasil antes de a agência abrir”; “O diretor viajou para Brasília apesar de a reunião ter sido transferida”; “A possibilidade de os políticos não aceitarem o projeto é muito grande”…
Resumindo: o segredo para a separação da preposição do artigo ou do pronome é a presença do verbo, sempre no infinitivo.




1.    O verbo ADEQUAR é defectivo ou não?

Todos nós aprendemos que o verbo ADEQUAR é defectivo, ou seja, é defeituoso, não tem conjugação completa.
A dúvida se deve ao fato de o dicionário Houaiss considerar completa a conjugação do verbo ADEQUAR.
É polêmica na certa.
A realidade é que, para a maioria dos nossos gramáticos, o verbo ADEQUAR é defectivo: no presente do indicativo, só tem a primeira pessoa do plural (=nós adequamos) e a segunda pessoa do plural (=vós adequais); no presente do subjuntivo, não há pessoa alguma. É essa a visão dos professores que organizam a maioria dos nossos concursos.
Há, entretanto, um bom número de estudiosos, entre eles a equipe que organizou o dicionário Houaiss, que já aceita a conjugação completa do verbo ADEQUAR:
PRESENTE DO INDICATIVO / PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Eu adéquo                                que eu adéque
Tu adéquas                              que tu adéques
Ele adéqua                               que ele adéque
Nós adequamos                       que nós adequemos
Vós adequais                           que vós adequeis
Eles adéquam                          que eles adéquem
Segundo a tradição gramatical, entretanto, o verbo ADEQUAR é defectivo. Verbo defectivo é aquele que tem defecção (=falta de algumas formas). O verbo ADEQUAR, por exemplo, só apresenta as formas arrizotônicas (=sílaba tônica fora da raiz). Em termos práticos, significa que não tem as três pessoas do singular e a 3a do plural (=eu, tu, ele e eles) do presente do indicativo e, consequentemente, nada no presente do subjuntivo.
Para ficar bem claro:
PRESENTE DO INDICATIVO  /   PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Eu        -                                                -
Tu        -                                                -
Ele       -                                                -
Nós adequamos                                   -
Vós adequais                                        -
Eles      -                                               -
Nos tempos do pretérito e do futuro, tudo normal: ele adequou, adequava, adequara, adequará, adequaria, adequando, adequado…

Numa frase do tipo “É preciso que a nossa empresa SE ADÉQUE ou SE ADEQÚE à realidade do mercado”, a solução é: “…que a nossa empresa FIQUE ADEQUADA à realidade do mercado”.


2. Verbos, verbos, verbos…

Outro verbinho “problemático” é o EXTORQUIR. Além de defectivo (=eu “extorco” não existe), temos um problema semântico.
O verbo EXTORQUIR vem do latim extorquere (=arrancar alguma coisa de alguém sob tortura). O prefixo “ex” significa movimento para fora (=arrancar) e torquere é torcer (=implícita aqui a ideia de tortura). Isso significa que o verbo EXTORQUIR, desde a sua origem, é usado como “arrancar”.
É correto, portanto, quando ouvimos que “o policial extorquiu a confissão do criminoso” ou “o sequestrador está extorquindo dinheiro da família do empresário”. Inadequado é “alguém extorquir alguém”. Na frase “bandido está extorquindo comerciante”, temos o mau uso do verbo extorquir.
Para você não errar, use o seguinte “macete”: só use o verbo EXTORQUIR se ele for substituível por “arrancar”.
Observe a diferença:
“…extorquir a confissão do criminoso” = “arrancar a confissão”; “…extorquir dinheiro da família” = “arrancar dinheiro”;
“…extorquir o comerciante” = inadequado, porque não é possível “arrancar” o comerciante;
“…extorquir a família do sequestrado” = inadequado também,
porque não é possível “arrancar” a família do sequestrado.
Outros verbos que merecem atenção são EXPLODIR, ABOLIR e DEMOLIR. São todos defectivos: só existem nas formas verbais em que após a raiz aparecem as vogais “e” ou “i”: explode, explodem, explodindo, abolimos, abolido, demolimos, demoliu, demolindo…
Assim sendo, rigorosamente não “existem” formas como “expludo ou explodo, abulo ou abolo, demula ou demola”.


3. Ele foi PEGO ou PEGADO em flagrante?

Existem alguns verbos que nos deixam de cabelo em pé: GANHO ou GANHADO, GASTO ou GASTADO, PAGO ou PAGADO, PEGO ou PEGADO?
Alguns gramáticos defendem o uso exclusivo das formas clássicas: GANHADO, GASTADO, PAGADO e PEGADO. Outros preferem o uso exclusivo daquelas formas que o brasileiro consagrou: GANHO, GASTO, PAGO e PEGO.
Há ainda os moderados. São aqueles que aceitam as duas formas de acordo com a regra dos particípios abundantes:
Após os verbos TER ou HAVER, devemos usar a forma
clássica: tinha aceitado, havia suspendido, tinha ganhado, havia gastado, tinha pagado;
Após os verbos SER ou ESTAR, usamos a forma irregular: foi
aceito, estava suspenso, fora ganho, era gasto, será pago.
O mestre Celso Cunha defende o uso de ganho, gasto e pago após qualquer verbo auxiliar: ser ou ter ganho, ser ou ter gasto. Assim sendo, “a conta foi paga”, mas “ele tinha pago ou pagado a conta”.
Concordo com o professor Celso Cunha. Não podemos jogar no lixo as formas clássicas nem ignorar as novidades linguísticas. Incluo ainda o verbo PEGAR. A forma PEGADO estará sempre correta, mas a forma PEGO está consagradíssima: “Ele tinha PEGADO os documentos” e “Ele foi PEGO em flagrante”.
Inaceitáveis ainda são as tais histórias de “ele tinha chego” e “ele tinha trago”. Nesse caso, no padrão culto da língua portuguesa, as formas clássicas estão preservadas: “ele tinha chegado” e “ele tinha trazido”.



1.    Os infinitivos devem flexionarem ou não flexionar???

Nas locuções verbais, usamos o infinitivo impessoal, ou seja,
aquele que não se flexiona nunca: “Os infinitivos não DEVEM FLEXIONAR-SE”; “Os alunos VÃO SAIR mais cedo”; “Os dois zagueiros PODEM SER expulsos”.
Devemos tomar um cuidado especial quando as palavras estão fora de lugar ou quando a locução verbal fica separada por uma intercalação qualquer: “As crianças FORAM todas TOMAR banho”; “Os políticos DEVERIAM, devido à urgência, ANALISAR melhor este caso”. De qualquer modo, o infinitivo, em locuções verbais, não se flexiona.
Fora das locuções verbais é que o infinitivo provoca problemas:
“Os técnicos estão aqui para RESOLVER ou RESOLVEREM o problema”???
Embora alguns autores aceitem a concordância no plural, eu sou a favor do uso do infinitivo não flexionado, ou seja, no singular. Existe uma antiga regrinha que defende o uso do infinitivo no singular sempre que o seu sujeito for o mesmo da oração anterior: 1ª oração: “Os técnicos estão aqui” (sujeito = os técnicos); 2ª oração: “para resolver o problema” (sujeito oculto = eles, os técnicos).
O infinitivo só é obrigado a se flexionar (=ir para o plural) se o seu sujeito for diferente do sujeito da oração anterior: “O diretor deu uma ordem expressa para os técnicos RESOLVEREM o problema ainda hoje”. Quem deu a ordem foi o diretor (= sujeito da primeira oração), mas quem vai resolver o problema são os técnicos (= sujeito da segunda oração).



2. Ele mandou as pessoas SAIR ou SAÍREM?

Eis um belo caso polêmico.
1) Há quem afirme que a flexão do infinitivo é obrigatória: “Mandou as pessoas saírem”. O argumento é simples: quem mandou foi “ele” (sujeito), mas quem vai sair são “as pessoas” (sujeito plural da segunda oração). Seria o mesmo caso de “Nós (sujeito) deixamos as secretárias (sujeito) resolverem o caso”.
2) Há quem defenda a tradição gramatical: após verbos causativos e sensitivos (=mandar, deixar, fazer, ver, ouvir), o infinitivo não se flexiona: “Ele mandou as pessoas sair” e “Nós deixamos as secretárias resolver o caso”.
3) A tendência da maioria dos estudiosos é aceitar as duas formas. Seria, portanto, um caso de concordância facultativa.
Esta dúvida é bem marcante quando o sujeito do infinitivo aparece anteposto (antes do infinitivo): “…mandou as pessoas sair ou saírem”; “…deixamos as secretárias resolver ou resolverem o caso”.
Quando o sujeito do infinitivo aparece posposto (depois do infinitivo) ou expresso por um pronome pessoal oblíquo, é flagrante a preferência pelo uso do infinitivo não flexionado: “Deixai VIR a mim as criancinhas”; “Ele mandou-as SAIR”.
Para facilitar nosso dia a dia, minha sugestão é a seguinte:
Se o sujeito vier claramente expresso antes do infinitivo, a concordância deve ser feita:
“O diretor mandou seus funcionários SAÍREM.”
“O plano fez preços DESPENCAREM.”
Se o sujeito não vier claramente expresso antes do infinitivo, a concordância é facultativa. A preferência é deixar o infinitivo no SINGULAR:
“Deixai VIR a mim as criancinhas.”
“Mandei ENTRAR todos os convidados.”
Se o sujeito do infinitivo for expresso por um pronome oblíquo (=os, as, nos…), devemos usar o verbo no SINGULAR:
“Mandei-os ENTRAR.”
“Ele não as deixou FALAR.”

3. A persistirem ou AO persistirem os sintomas…

Na televisão, após a propaganda de qualquer medicamento, aparece a seguinte mensagem: “A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. A dúvida surge porque, às vezes, a mensagem é: “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”.
Leitores querem saber qual é a forma correta: “A persistirem os sintomas” ou “AO persistirem os sintomas”?
A minha preferência é “a persistirem os sintomas”, pois temos aqui uma ideia condicional: “se persistirem os sintomas”, “caso persistam os sintomas”.
Não é que a forma “ao persistirem os sintomas” esteja errada. Quando usamos a forma “ao” antes de verbo no infinitivo, temos uma ideia temporal, e não condicional. É como se disséssemos “quando os sintomas persistirem”. Seria semelhante ao caso de “ao sair, apague a luz”, ou seja “quando sair, apague a luz”.
O pecado maior, portanto, não é o fato de a frase estar certa ou errada, é a falta de clareza. Afinal, é para consultar o médico se os sintomas persistirem ou quando os sintomas persistirem?
É a mania de falar difícil. É o ultrapassado conceito de que falar bem é falar difícil. Seria muito mais simples e claro se a mensagem fosse: “se os sintomas continuarem, consulte um médico”.
Uma certeza, porém, todos nós devemos ter: consultar um médico.
Melhor mesmo é toda a população brasileira ter acesso a um médico e abandonar o perigoso hábito da automedicação. Sob orientação médica, os sintomas provavelmente não persistirão.